Viúva Negra

 Dinâmica Familiar

 

A grande qualidade de Viúva Negra (EUA, 2021) advém do seu destemor em abrir espaço para que personagens coadjuvantes brilhem, aspecto esse em que chama atenção a generosidade e falta de egocentrismo de Scarlett Johansson que enquanto protagonista não se incomoda em ser ofuscada por seus colegas de cena, denotando, assim, um posicionamento maduro de quem prefere ser ladeada dos bons do que reinar soberana entre os prosaicos. Nesta esteira, merecem destaque David Harbor divertidíssimo na condição de respiro cômico da trama, além de Florence Pugh que aqui adiciona aos inúmeros recursos dramáticos já demonstrados em trabalhos anteriores um vigor físico que impressiona e que a capacita a ter uma longa e promissora jornada na nova fase das produções Marvel – para que a análise resulte completa, vale salientar: não bastasse a ferocidade com que encara as sequências de ação, Florence também faz rir, bem como encanta nos momentos em que sentimentos soterrados de sua personagem vêm à tona.

Por certo tempo Viúva Negra aparenta ser um filme de espionagem tal como Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) conseguiu de maneira excelente ser. Tal toada, contudo, não é levada a ferro e fogo porque muito interessa também ao longa-metragem esmiuçar a dinâmica familiar que se descortina para Natasha Romanoff, caminho inverso que em nada incomoda graças, como dito, ao elenco que quando reunido torna tudo extremamente saboroso.

É de se lamentar que o roteiro, apesar de tão sensível às figuras coadjuvantes, não tenha dado o espaço devido aos vilões que, desta feita, entram e saem da história com pouco ou quase nenhum desenvolvimento, trabalho que caso feito poderia render maiores reflexões sobre o assunto da violência contra a mulher que a produção suscita, mas não  aprofunda.

Dentro deste contexto, a etapa final estruturada por explosões e cenas hiperbólicas representa um vício dos blockbusters do qual a obra não consegue se desvencilhar¹, circunstância que não chega a fazer da experiência um sacrifício dado, repita-se, o fator humano aplicado pelos atores mesmo nos momentos mais pirotécnicos – junção de forças que, desta feita, faz a duração superior a duas horas do título passar como que num piscar de olhos.

______________________________

1.     Mulher-Maravilha (2017) é um exemplo dessa prática não raro desnecessária ao conjunto da narrativa.

 

Ficha Técnica


Título Original:
Black Widow

Direção: Cate Shortland

Roteiro: Stan Lee, Jac Schaeffer, Ned Benson, Don Heck, Don Rico

Elenco: Scarlett Johansson, Florence Pugh, O-T Fagbenle, Ryan Kiera Armstrong, Ray Winstone, William Hurt, Rachel Weisz, David Harbour, Michelle Lee, Andrew Byron, Violet McGraw, Joakim Skarli,Olivier Richters, Ever Anderson, Ahmed Bakare, Yolanda Lynes, Nanna Blondell, Shaina West, Obie Matthew, Ione Butler, Rob Horrocks, John Wolfe

Fotografia: Gabriel Beristain

Trilha Sonora: Lorne Balfe

Estreia Brasil: 08/07/2021

Duração: 133 min.

Comentários

LEIA TAMBÉM