O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas
Pelo Bem ou Pelo Mal
Desprender-se da falta de responsabilidade que marca, sobretudo, a adolescência e início da fase adulta não é tarefa das mais simples. Encarar compromissos e escolhas profissionais é um drama que, não raro, acompanha as pessoas para além do tempo desejado. Neste passo, O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (EUA, 1985) pretende ser um apanhado destas sensações ao abordar o cotidiano de um grupo de amigos de colégio que, uma vez saídos de lá, se vê às voltas com tal rito de passagem.
Por dispor de um tema que mexe com as emoções de qualquer um, o filme de Joel Schumacher obteve quando de seu lançamento considerável sucesso comercial, angariando, por conseguinte, uma legião de fãs que ainda hoje o cultuam. Todavia, o distanciamento racional exigido por uma análise mostra que a obra não passa incólume perante certos questionamentos. Passemos a eles:
– Apesar de ter em mãos assuntos riquíssimos para tratar, quais sejam as dúvidas dos jovens sobre o que fazer para garantir uma promissora trajetória de vida, o cineasta centra o foco da narrativa sobre as oscilações amorosas dos seres retratados, desperdiçando, portanto, a oportunidade de realizar um estudo mais aprofundado acerca da fragilidade que via de regra acomete o homem neste período.
– Logo, Schumacher extrapola o formato outrora manejado em A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, EUA, 1967) optando, assim, por fazer com que todas as inseguranças e incertezas dos personagens girem ao redor de uma ciranda de paixões.
– Dentro deste contexto, vale dizer que a personagem mais desperdiçada, por incrível que pareça, é aquela defendida por Demi Moore, eis que o complexo de rejeição e a dependência química da mesma recebem um tratamento raso, superficial, enquanto outros papeis irritantes – como o de Emilio Estévez – ganham espaço além do merecido.
Vinte e seis anos após seu lançamento O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas se mostra deveras datado, daí porque a experiência de assisti-lo não gera hoje nada mais que um curioso inventário sobre o estilo oitentista – vide a trilha sonora pop e os espalhafatosos penteados, figurinos e maquiagens – o que inclui, ainda, a constatação de que toda a badalação feita em torno do Brat Pack¹ não foi o bastante para que as carreiras daqueles jovens astros resistissem à prova do tempo.
Pelo bem ou pelo mal, além de conquistar lugar em muitos corações, o filme também exerceu inegável influência para a criação de outro grande sucesso, qual seja o seriado Friends que, por sua vez, conseguiu se manter em produção por mais de uma década em razão da simpatia, sem exceções, de seus personagens e em virtude da total falta de constrangimento em se assumir na grande parte das vezes como entretenimento bobinho, despretensão essa que faltou ao longa-metragem de Joel Schumacher.
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¹. Brat Pack: denominação criada pela revista New York numa matéria escrita durante a gravação do filme para o conjunto de atores que nos anos 80 faziam filmes adolescentes. Neste sentido, Brat = Pirralho e Pack = Conjunto.
COTAÇÃO: ۞۞
Ficha Técnica
Título Original: St. Elmo's Fire
Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Carl Kurlander, Joel Schumacher, Stephen H. Burum, Susan Becker
Elenco: Nora Meerbaum (Myra)Anna Maria Horsford (Naomi)Judy Kain (Judy)Gina Hecht (Judith) Ally Sheedy (Leslie Hunter) Andie MacDowell (Dale Biberman)Matthew Laurance (Ron Dellasandro))Cindi Dietrich (Flirt)Thom Bierdz (Rowdy Undergrad)Andrew McCarthy (Kevin Dolenz)Mario Machado (Kim Sung Ho)Rob Lowe (Billy Hicks) Martin Balsam (Mr. Beamish)Jamie Anders (Jamison Anders)Judd Nelson (Alec Newbary)Whip Hubley (Raymond Slater)Emilio Estévez (Kirby Keger)Jenny Wright (Felicia)Bernadette Birkett (Rachael)Dean R. Miller (Clayton Beamish)Demi Moore (Jules)Blake Clark (Wally)Jim Turner (Troy) Jon Cutler (Howie Krantz)Elizabeth Arlen (Libby Beamish)Joyce Van Patten (Mrs. Beamish)Mare Winningham (Wendy Beamish)
Produção: Lauren Schuler Donner
Música: David Foster
Fotografia: Stephen H. Burum
Direção de Arte: William Sandell
Figurino: Susan Becker
Edição: Richard Marks
Duração: 104 min.
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