Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual
Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual (Argentina, 2011) possui uma declarada inspiração: Manhattan (EUA, 1979). Neste sentido, se o filme de Woody Allen é uma comédia romântica, cujo título é justificado em razão desta também ser uma ode a ilha tão adorada pelo diretor¹, a produção argentina envereda pelo mesmo gênero fílmico mas faz uma homenagem menos poética e mais sarcástica no que tange a forma caótica como se efetivara o processo de urbanização da capital federal daquele país.
Se, por um lado, a inquietação de cunho arquitetônico do diretor e roteirista Gustavo Taretto é satisfatoriamente explorada seja em seu aspecto crítico seja em seu viés metafórico (a selva de pedras trabalha a favor do isolamento, da solidão), o mesmo não pode ser dito quanto ao processo de caracterização dos personagens principais, visto que, embora num primeiro instante as diferenças entre os mesmos sejam bem estabelecidas (contra o sucesso profissional dele, surge a frustração, nesse campo, dela; contra o abandono por ele experimentado, choca-se a opção dela em viver só), as semelhanças que o roteiro sugere para os mesmos se revelam mal trabalhadas, afinal, Taretto tenta sem sucesso emular o estilo de Wes Anderson ao compor tipos solitários colecionadores de manias e fobias, delineação de comportamentos essa que, na hipótese de Medianeras, soa um tanto quanto fabricada e gratuita na medida em que parece pouco verossímil que nenhum dos dois possua qualquer amigo ou parente ainda que distante(s)².
Ademais, considerando que os personagens quase nunca tem com quem falar, ao espectador é dado o dever de ouvir narrações em voz over ao longo de quase todo o filme, o que, além de acarretar inevitável cansaço, demonstra certa falta de originalidade de Taretto que bem poderia ter lançado mão de outros recursos – como a quebra da quarta parede³ – para, assim, driblar a repetição.
É claro que Medianeras possui considerável número de méritos, dentre os quais merecem registro: as soluções visuais bem trabalhadas, o roteiro ágil que, apesar das ressalvas feitas, não deixa furos em suas conexões, as piadas inteligentes quanto ao universo pop suscitado – no que se destaca a ótima brincadeira envolvendo o clássico Onde Está Wally? – e, por fim, a corretíssima escolha de manter a essência do curta-metragem de origem e fazer deste um filme mais de desencontros do que de encontros, qualidades essas que, frise-se, lhe afastam do círculo vicioso dos clichês norte-americanos para, em contrapartida, aproximar a obra de outro exemplar do gênero, qual seja o francês Os Nomes do Amor (França, 2010)⁴ que, de igual modo, não se contenta enquanto mero exemplo de um formato optando, desta feita, em correr riscos ao lidar com temáticas aparentemente estranhas a comédia romântica.
Parece chegada a hora de, mais uma vez, Hollywood, revitalizar gêneros que lhe são caros, dando a devida atenção para trabalhos e diretores de outras partes do globo.___________________________
1.Leia mais sobre Manhattan em http://setimacritica.blogspot.com.br/2010/04/wes-anderson-possui-uma-latente.html.
2.Ao contrário, por exemplo, do modo como é trabalhado o personagem de James Franco em 127 Horas, eis que ao espectador resta claro que o modo de vida solitário foi uma opção deliberadamente tomada pelo protagonista, isso porque na secretária eletrônica a mãe reclama da ausência de respostas para as mensagens por ela anteriormente deixadas, ao passo que flashbacks revelam o amor doo passado deixado para trás ou por arrogância ou por medo do compromisso.
3. A sala de teatro é composta de quatro paredes, sendo duas laterais, uma atrás do palco e outra invisível localizada entre o artista e o público, na medida em que não ocorresse uma comunicação direta entre os dois. Assim, monólogos falados com o olhar voltado diretamente para o receptor, tal como numa conversa, representam, segundo Bertolt Brecht, a quebra da quarta parede. No cinema um exemplo moderno é encontrado nas falas que Ferris Bueller, protagonista de Curtindo a Vida Adoidado profere diretamente para o espectador enquanto toma banho.
4. Leia mais sobre Os Nomes do Amor em http://setimacritica.blogspot.com.br/2011/06/os-nomes-do-amor.html.Título Original: Medianeras
Direção e Roteiro:Gustavo Taretto
Produção: Hernán Musaluppi, Natacha Cervi
Elenco:Pilar López de Ayala (Mariana)Inés Efron (Ana)Carla Peterson (Marcela)Rafael Ferro (Rafa)Javier Drolas (Martín)Adrián Navarro (Lucas)Romina Paula (Ex-noiva)
Estreia Mundial: 4 de Março de 2011
Duração: 95 min.
uhaiuhaiuhaiuha... adorei a tua meia estrela!
ResponderExcluirMas a tua crítica... ¬¬'