Que Viva, Eisenstein! - 10 Dias que Abalaram o México



Opção Desarmônica

Que Viva, Eisenstein! - 10 Dias que Abalaram o México (Bélgica / Finlândia / França / Holanda / México, 2015) promete ser um prato cheio a qualquer cinéfilo, afinal, seus minutos iniciais levam a crer – com o auxílio de uma irreverente montagem – que a obra se debruçará sobre os bastidores da malfadada produção Que Viva México! conduzida por Sergei Eisenstein na cidade de Guanajuato. Infelizmente, porém, o diretor Peter Greenaway não tarda a abandonar quase que por completo tal premissa, optando, assim, por se concentrar sobre a vida íntima do icônico cineasta - interpretado em modo histriônico por Elmer Bäck -, aspecto esse em que o sexo, como de praxe na filmografia de Greenaway, assume uma importância central na trama.

Desta feita, ao invés de se aprofundar nos problemas que forçaram a interrupção do projeto mexicano, Greenaway se contenta em explorar a questão da iniciação sexual do artista e sua assunção da homossexualidade. Embora interessante esse exercício de imaginação sobre a pessoa de Eisenstein, seu lado profissional, inegavelmente, possui relevância maior considerando o legado artístico por ele deixado, daí que ao invés de privilegiar um viés em detrimento de outro, um bom roteiro poderia conciliar as facetas metalingüística e romântica presentes no recorte encenado.
O longa-metragem, vale dizer, não se escusa de apontar que, custeado por patrocinadores, Eisenstein vivera como um bon vivant no México deixando não raro o trabalho a ser por ele executado a cargo de seus cinegrafistas – neste passo, é emblemática a cena em que o amante do cineasta o deixa por uns instantes porque tem de trabalhar enquanto aquele fica a rolar na cama entediado. E é assim, insinuando que as descobertas íntimas de Eisenstein o distraíram a ponto de prejudicar seu profissionalismo, que Greenaway aproveita para de maneira consciente e deliberada tratar com descaso os meandros da conturbada produção de Que Viva México!, tal como talvez tenha feito o soviético.
Conforme a ótica de Luiz Carlos Merten: “A correção é inimiga da arte”¹; por isso, as especulações de Greenaway quanto ao comprometimento profissional de Eisenstein não devem ser ignoradas de plano. Contudo, é certo que toda encenação do artista fanfarrão e pouco trabalhador se vê alvejada pela contradição quando, pouco antes dos créditos finais, um letreiro explica que Eisenstein filmara muitos quilômetros de negativo que nunca puderam ser por ele editados, dado esse que atesta o quanto da história foi deixado de lado e o quão mais curiosa do que o mero olhar sobre um relacionamento amoroso do diretor ela aparenta ter sido.
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1.FONTE: http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,premiado-em-gramado--a-bruta-flor-do-querer-e-obra-de-uma-dupla-talentosa,10000025443. Acesso em 10.05.2016.

FICHA TÉCNICA
Título Original: Eisenstein in Guanajuato
Direção e Roteiro: Peter Greenaway
Elenco: Alan Del Castillo, Elmer Bäck, Jakob Öhrman, Lisa Owen, Luis Alberti, Mauro González, Maya Zapata, Raino Ranta, Rasmus Slätis, Stelio Savante
Produção: Bruno Felix, Cristina Velasco Lozano, Femke Wolting, San Fu Maltha
Fotografia: Reinier van Brummelen
Montador: Elmer Leupen
Trilha Sonora: Patrick Lemmens
Estreia Brasil: 07.01.2016
Duração: 105 min.

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