Agnus Dei
No
Panteão
Logo na primeira sequência de Agnus Dei (França/Polônia, 2016) subtítulos
informam que a história se passa na Polônia em dezembro de 1945. Desse modo
fica imediatamente claro que os eventos a serem narrados são posteriores ao
término da II Guerra Mundial, daí que mediante esse simples aviso o espectador
é preparado para se deparar com os efeitos e consequências deixados pelo conflito
recém-encerrado. Não a toa, Suzana Uchôa Itiberê escreve que o longa-metragem:
“não discute tanto a violência em si, mas
o desafio de superá-la”.
Dito isso, a história das freiras
estupradas e engravidadas por soldados no interior de um convento por si só já
seria contundente e incômoda o bastante para sustentar a obra, mas a diretora Anne
Fontaine não se contenta apenas com esse viés e vai além ao se debruçar também
sobre as consequências da fé cega nesse caso demonstrada por uma madre
superiora capaz dos atos mais atrozes para manter em segredo que ela e as
demais freiras foram violadas. Tal abordagem faz o filme crescer consideravelmente,
tendo em vista que a crítica aos dogmas da igreja católica é feita de forma
ferrenha, trazendo ainda a tona reflexões quanto aos direitos da mulher sobre o
próprio corpo e das crianças quanto a vida², o que coloca Agnus Dei no panteão das produções que melhor exploraram as agruras
do sacerdócio, quais sejam Viridiana (Espanha, 1961), A Religiosa (França,
1966) e Em Nome de Deus (Irlanda/Reino
Unido, 2002).
A direção de Fontaine, dentro
deste contexto, merece elogios, eis que a cada cena resta evidente que a
cineasta, além de estar em pleno domínio da linguagem cinematográfica, sabe
exatamente o que quer dizer, qualidades essas as quais se somam os ótimos
trabalhos de roteiro – hábil em driblar o sentimentalismo -, de reconstituição
de época, de fotografia e de elenco, no que se destaca principalmente Lou de
Laâge em desempenho absolutamente seguro e desenvolto. Arrebatador.
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1. Revista
Preview. Ano 7. ed. 82. São Paulo:
Sampa, Julho de 2016. p.54.
2. Isso porque, como visto no filme, alguns recém-nascidos acabaram sacrificados
em resgate pelo pecado original tal como ocorrera com o cordeiro de Deus, daí a
explicação para o bem sacado título brasileiro dado a obra.
Ficha
Técnica
Título
Original: Les Innocentes
Direção: Anne Fontaine
Elenco:
Agata Buzek, Agata Kulesza, Anna Próchniak, Dorota Kuduk, Eliza Rycembel,
Helena Sujecka, Joanna Fertacz, Joanna Kulig, Katarzyna Dabrowska, Klara
Bielawka, Leon Latan-Paszek, Lou de Laâge, Mariusz Jakus, Mira Maluszinska,
Pascal Elso, Thomas Coumans, Tomasz Sobczak, Vincent Macaigne, Zacharjasz
Muszynski
Produção:
Eric Altmayer, Nicolas Altmayer
Fotografia:
Caroline Champetier
Montagem:
Annette Dutertre
Trilha Sonora:
Grégoire Hetzel
Estreia:
14/07/2016 (Brasil)
Duração:
115 min.
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