Uma Família de Dois
Crossover de Clichês
Uma Família de Dois (França, 2017) não almeja em momento algum ser
original e, assim, se apropria sem qualquer traço de vergonha, de elementos
narrativos clichês vistos em obras como Três
Solteirões e um Bebê (EUA, 1987) e À
Procura da Felicidade (EUA, 2006). Para ser mais exato o longa-metragem
configura uma espécie de cruzamento, com pitadas cômicas, de Kramer vs. Kramer (EUA, 1979) com o
nacional Pequeno Segredo (2015), não
fazendo, desta feita, o menor esforço para evitar a previsibilidade.
Em sua porção comédia o filme não
funciona uma vez que banaliza a realidade dos personagens tornando-a
insuportavelmente feliz e desprovida de problematizações tal qual um comercial
de margarina – circunstância essa, aliás, assumida de maneira expressa pelo
roteiro que em certa ocasião insere o protagonista, um dublê cinematográfico, em
um diálogo sobre a dificuldade de manter um relacionamento amoroso enquanto pai
solteiro, fala essa que logo se revela uma encenação para as câmeras feita em
um momento de trabalho, ou seja, num ambiente tão fake quanto a pretensa alegria absoluta mostrada no cotidiano
mantido entre aquele e a filha.
Já em sua faceta dramática Uma Família de Dois igualmente tropeça
seja porque a transição feita entre o início de tal gênero e o fim da toada humorística
não é trabalhada satisfatoriamente seja porque, como já dito, os artifícios da
narrativa utilizados para tanto incomodam dada a similitude para com tantos
outros novelões já filmados. Neste sentido, na tentativa de evitar que tal viés
dramático resultasse insuportável a produção se vale de Omar Sy que, apesar de
ótimo como de praxe, não é milagreiro a ponto de salvar um trabalho prejudicado
desde sua concepção graças a um roteiro preguiçoso e piegas que ainda tenta já
próximo ao término aplicar um plot twist
cujo efeito é nulo porque amparado por mais uma ideia repetida.
A propósito, o título é um remake de Não Aceitamos Devoluções (México, 2013), informação essa, convenhamos,
de pouca relevância já que a obra há de ser escrutinada de forma autônoma e não
sob a sombra de eventuais qualidades ou defeitos daquela que oficialmente lhe
inspirara.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Demain Tout Commence
Direção: Hugo Gélin
Roteiro: Eugenio Derbez,
Hugo Gélin, Jean-André Yerles, Leticia López Margalli, Mathieu Oullion
Elenco: Alice David,
Anabel Lopez, Anna Cottis, Antoine Bertrand, Antoine Gouy, Ashley Walters, Ben Homewood,
Cécile Cassel, Clémence Poésy, Clémentine Célarié, David Lowe, Deepak Anand,
Elaine Caulfield, Ginnie Watson, Gloria Colston, Guillaume Bouchède, Howard
Crossley, Mona Walravens, Natacha Andrews, Noémie Kocher, Omar Sy, Raphael von
Blumenthal, Raquel Cassidy
Produção: Philippe
Rousselet, Stéphane Célérier
Fotografia: Nicolas Massart
Montador: Grégoire Sivan,
Valentin Feron
Trilha Sonora: Rob Simonsen
Estreia: 06/07/2017 (Brasil)
Duração: 118 min.
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