Deus é Mulher e seu Nome é Petúnia
Machismo Estrutural
Deus é Mulher e seu Nome é Petúnia (Macedônia/Bélgica/França/Croácia, Eslovênia, 2019) aparenta carecer de uma narrativa menos contemplativa e mais contundete, o que faz pensar no que poderia resultar o filme caso capitaneado por artista como Costa-Gravas e Lars Von Trier, por exemplo. Talvez uma redução da metragem da obra seria capaz de manter o nível de impacto da história de misoginia enfrentada por uma mulher que ousara desafiar os costumes e tradições de uma sociedade patriarcal na qual ela é vista primeiramente como um ser descartável e em seguida como alguém insolente que merece toda sorte dose de ataques a sua liberdade e a sua honra.
Desacreditada por praticamente todos, Petúnia segue convicta na sua jornada de confronto ao establishment que iniciada um tanto que por acaso e sem planejamento torna-se rapidamente uma questão individual de proteção do seu espaço no mundo e coletiva de defesa da igualdade de gêneros. Neste sentido, a conclusão da produção é muitíssimo inteligente ao mostrar a protagonista optando por sem qualquer cerimônia desfazer-se do bem material cuja posse por ela mantida despertou a ira de tantos, afinal, a luta de Petúnia não girava em torno do ter e sim do ser, no que se inclui a necessidade de ser vista, ouvida e respeitada em uma nação que sob o alicerce da intolerância religiosa trata as mulheres como figuras inferiores.
Pensando bem, se o título consegue despertar tamanhas reflexões ainda que na constância de um ritmo moroso que incomoda os mais impacientes, resta possível concluir que a cineasta Teona Strugar Mitevska alcançou todas as metas por ela perseguidas, sendo, dentro deste contexto, o desejo de ver o filme conduzido por um diretor teoricamente mais enérgico uma provável expressão do machismo estrutural que se manifesta até entre quem se julga imune a tal prática.
ficha técnica
Título original: Gospod postoi, imeto i' e Petrunija
Direção: Teona Strugar Mitevska
Roteiro: Elma Tataragic, Teona Strugar Mitevska
Produção: Danijel Hocevar, Elie Meirovitz, Marie Dubas, Sébastien Delloye, Zdenka Gold
Elenco: Andrijana Kolevska, Bajrush Mjaku, Igor Todorov, Ilija Volcheski, Labina Mitevska, Ljiljana Bogojevic, Mario Knezovic, Nenad Angelkovic, Nikola Kumev, Pece Ristevski, Petar Mircevski, Simeon Moni Damevski, Stefan Vujisic, Stojan Arev, Straso Milosevski, Suad Begovski, Violeta Sapkovska, Vladimir Tuliev, Xhevdet Jashari, Zorica Nusheva
Fotografia: Virginie Saint-Martin
Montagem: Marie-Hélène Dozo
Estreia Brasil: 26/12/2019
Duração: 100 min.
Comentários
Postar um comentário