Judy - Muito Além Do Arco-Íris

 Star System

 

Baseado em uma peça de teatro, o roteiro de Judy - Muito Além Do Arco-Íris (EUA/Reino Unido, 2019), aborda um breve recorte da vida de Judy Garland, qual seja o último ano que antecedeu sua morte, período esse intercalado com flashbacks concernentes ao período em que a estrela gravara o Mágico de Oz. Neste passo, a despeito das inúmeras possibilidades narrativas proporcionadas pelo cinema, o título se contenta com os referidos curtos intervalos temporais, o que torna a cinebiografia incompleta seja quanto a carreira de Garland – que parece ter sido intérprete de um papel só – bem como quanto aos dramas pessoais enfrentados pela artista, no que se incluem: o vício em álcool e drogas, os abortos que lhe foram impostos em nome da adequação ao star system e os casamentos fracassados em condições sempre peculiares¹.


Ao que parece Judy teme encarar de frente tais temas como que num receio de macular a imagem de Garland. Da forma como feito, o filme sempre deixa a sensação de vazios a serem preenchidos², o que o leva a perder, por exemplo, a oportunidade de tratar com profundidade a questão do patriarcalismo de uma indústria que tratava as mulheres como propriedades ou animais a serem adestrados³, processo perpetrado não raro com truculência tamanha a ponto de desestabilizar o equilíbrio psicológico de alguém pelo resto de sua existência, tal como ocorrido com Garland. Isto posto, não resta dúvida que tal assunto até permeia o longa-metragem de ponta a ponta, mas jamais de maneira enfática o suficiente para incomodar, daí Isabela Boscov concluir que  a “tristeza profunda e a fragilidade em que a estrela vivia mergulhada; [...] são mais enunciadas pelo roteiro do que sentidas pelo espectador⁴.

Ao invés de tanto investir em sequências musicais, a produção bem poderia ter ampliado a margem de abrangência da linha do tempo trabalhada, o que por certo permitiria a entrada em cena de outras diversas e curiosas figuras que conviveram com a atriz. Dentro deste contexto, Renée Zellweger com o pouco que tem em mãos entrega uma ótima performance, o que leva a pensar o quão mais longe a mesma poderia ter ido caso dispusesse de um script mais ambicioso.

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1. Mais sobre o assunto pode ser lido em https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/os-abortos-forcados-de-judy-garland.phtml.

2. Natalie Wood foi outra vítima dos predadores existentes em Hollywood, tal como visto no documentário Natalie Wood: Aquilo que Persiste trabalho que padece da mesma incompletude de Judy ao não esmiuçar tal assunto.

3. Neste sentido, Francisco Russo observa: “Por mais que excessos e abusos do tipo não sejam mais rotina, eles ainda acontecem só que em outra instância - estão aí as denúncias contra Harvey Weisntein, para nos lembrar do lado sujo de Hollywood” (Cria de Hollywood. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-260048/criticas-adorocinema/. Acesso em 18/11/2020).

4. ‘Judy’: Renée Zellweger dá vida à mais trágica estrela de Hollywood. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/isabela-boscov/judy-renee-zellweger-da-vida-a-mais-tragica-estrela-de-hollywood/. Acesso em 18/11/2020.


Ficha Técnica

Título Original: Judy

Direção: Rupert Goold

Roteiro: Tom Edge, baseado na peça de Peter Quilter

Produção: David Livingstone, Jim Spencer

Elenco: Darci Shaw, Renée Zellweger, Finn Wittrock, Rufus Sewell, Jessie Buckley, Adrian Lukis, Andy Nyman, Bella Ramsey, Bentley Kalu, Fenella Woolgar, Gaia Weiss, Gemma-Leah Devereux, Jodie McNee, John Dagleish, Lewin Lloyd, Lucy Russell, Michael Gambon, Phil Dunster, Philippe Spall, Richard Cordery, Royce Pierreson

Fotografia: Ole Bratt Birkeland

Trilha Sonora: Gabriel Yared

Montagem: Melanie Oliver

Estreia: 30/01/2020

Duração: 118 min.

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