Magic Mike



Contação de História

Assim como fizera em seu penúltimo filme A Toda Prova (EUA/Irlanda, 2011), Steven Soderbergh realiza um convencional exercício de contação de história em Magic Mike (EUA, 2012), o que, covenhamos, é pouco para um cineasta de sua envergadura que já há tempos vem trabalhando muito e convencendo pouco. Neste passo, seu novo longa-metragem certamente não está blindado contra determinadas críticas, senão vejamos:
É inconteste que na obra em comento o diretor deixa de lado o voyeurismo de Confissões de Uma Garota de Programa (EUA, 2008) em prol de uma toada exibicionista, o que, apesar de agradar as alas feminina e homossexual, acaba por limitar a abordagem a uma prática fetichista que pouco se esforça para, com raras exceções, compreender ou investigar as reais nuances existentes por trás das máscaras e fantasias utilizadas por aqueles que ganham a vida se despindo.
Dentro deste contexto, numa exemplificação contrária aquilo que fora praticado por Soderbergh, Paul Thomas Anderson realizou em Boogie Nights (EUA, 1997) um brilhante retrato tanto de uma época quanto de uma indústria, qual seja a do cinema pornográfico dos anos setenta. Tal resultado, frise-se, fora reflexo da atenção dada a cada um dos inúmeros personagens integrados ao enredo do filme, de forma que todos juntos formavam um interessantíssimo amálgama capaz de ilustrar e explicar o que de fato compunha aquele ramo de trabalho em tal período.
Dito isso, por maior que seja seu empenho, resta, por exemplo, nitidamente desperdiçado em Magic Mike o potencial dramático do papel de Matthew McConaughey, constatação que, aliás, pode ser aplicada a quase todas as demais figuras que o circundam no palco. Quanto a Channing Tatum e Alex Pettyfer, os seres por eles interpretados acabam por disputar a posição de protagonista da trama, na medida em que fundem o passado e o presente da história real de Tatum que, por seu turno, aproveita a oportunidade para entregar o melhor desempenho até então de sua carreira – conclusão que, sejamos justos, ainda não é suficiente para uma consagração tendo em vista que a função de stripper já havia sido profissionalmente executada antes pelo ator.
E é por se concentrar exclusivamente nos personagens de Tatum e Pettyfer que o desfecho para eles apresentado soa preguiçoso porque amparado em clichês.  Não a toa, no que tange a trilogia do sexo orquestrada Soderbergh, Sexo Mentiras e Videotape (EUA, 1989) permanece como o mais provocativo ao passo que Confissões de Uma Garota de Programa¹ ecoa como o mais experimental e, finalmente, Magic Mike se revela como o mais acomodado de todos – não obstante a irritante mania do cineasta em lançar mão de filtros que agregam um tom sépia asséptico sobre a fotografia e a misé-èn-scene. 
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1. Leia mais sobre Confissões de uma Garota de Programa no link http://setimacritica.blogspot.com.br/2010/10/confissoes-de-uma-garota-de-programa.html.

FICHA TÉCNICA
Direção e Fotografia: Steven Soderbergh
Produção: Reid Carolin, Gregory Jacobs, Channing Tatum, Nick Wechsler
Roteiro: Reid Carolin
Elenco: Channing Tatum, Joe Manganiello, Alex Pettyfer, Matt Bomer, Olivia Munn, Matthew McConaughey, Mircea Monroe, Riley Keough, Denise Vasi, Cody Horn, Kevin Nash, Adam Rodriguez
Estreia Mundial: 29.06.2012              Estreia no Brasil: 28.09.2012
Duração: 110 min.

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