Um Retrato de Woody Allen
Intimidade Nem Tão Desconhecida
Um Retrato de Woody Allen (Reino Unido, 1998) é a prova cabal, para
quem ainda ouse duvidar, de que muitos dos personagens criados e, não raro,
interpretados pelo cineasta são extensões de sua própria persona. Inseguro, hipocondríaco
e detentor de todas as fobias imagináveis, Allen expõe no documentário a paixão
pelo jazz e sua atividade enquanto músico, quesito esse em que, há de se
convir, o filme deixa a desejar na medida em que pouco explora o conhecimento
teórico e prático do artista sobre o assunto. Na verdade, a obra de Barbara
Kopple preocupa-se mais em ser um diário de viagem do tour europeu de Woody com
sua banda, opção que acaba funcionando tendo em vista que não deixa de ser
curioso testemunhar o gênio em seu íntimo, aspecto esse em que se destaca sua
controversa relação com a parceira Soon Yi Previn. Juntos, os dois muitas vezes
parecem mãe e filho, não obstante a diferença contrária de idades, tamanha a
naturalidade com que ela o conduz em meio as manias e esquisitices que
frequentemente o tentam a estacionar, bem como lhe atribui broncas dignas da
mais zelosa das genitoras.
Merece também registro a inabilidade de Allen em manter um contato
próximo com seus colegas de banda. Seu afastamento, vale dizer, o torna
parecido a um empregador que, no máximo, consegue dialogar com o gerente de sua
empresa – daí, portanto, a surpresa de muitos ao constatarem que Woody lembrara
o nome de todos os músicos durante uma apresentação do grupo. Por fim, uma bem vinda
divagação vocacional é levantada quando após o último show da turnê, o cineasta
declara numa rápida entrevista que a música consiste, para ele, em hobby cujo
retorno financeiro não possui importância. Ok, a declaração é válida, embora, no
fundo saibamos que, se pudesse, Woody Allen abandonaria sem pestanejar o cinema
para se dedicar exclusivamente a seu “passatempo”. Menos mal que seu ganha pão não
consiste em ofício tão ordinário quanto o de um farmacêutico, profissão que
seus pais tanto desejavam que o filho exercesse ao lado de uma esposa judia –
conforme revelado numa hilariante sequência final em que elogios e farpas são
trocados entre os três.
Ficha Técnica
Título Original: Wild Man Blues
Direção: Barbara Kopple
Produção: Jean Doumanian, J.E. Baeaucaire
Estreia Brasil: 21.08.1998
Duração: 105 min.
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