Faroeste Caboclo
Para o Desespero
dos Fãs
Convenhamos: 99% do público brasileiro de Faroeste Caboclo (Brasil, 2013) já sabe de antemão o início, o meio
e o fim de sua trama porque conhecedor da canção homônima de Renato Russo.
Logo, é fácil concluir que esse contingente não busca surpresas mas apenas uma
adaptação fiel e minimamente satisfatória para com a tão idolatrada música.
Lamentavelmente, porém, tais expectativas são frustradas na medida em que:
- flashbacks são inseridos numa
narrativa que é originalmente linear, denotando, assim, o afã, por parte da
edição, de agregar ao filme um ineditismo idealizado tão somente pelos egos daqueles
que pretendiam apor suas próprias assinaturas sobre a criação de Renato Russo;
- o time de roteiristas envolvido
no projeto não consegue aproveitar o roteiro pronto que é a canção, o que leva
certas passagens desta, para o desespero dos fãs mais xiitas, a serem ora
omitidas/descartadas ora alteradas ora solucionadas de forma duvidosa;
- o triângulo amoroso da versão
cinematográfica pouco convence, o que em grande parte se deve ao ineficaz
delineamento do personagem Jeremias que, para piorar, é encarnado por um
limitado Felipe Abib;
- momentos tensos da canção como
o estupro de João de Santo Cristo e o duelo final são encenados de forma
apressada e anticlimática.
Se por um lado a essência da canção é cinematograficamente prejudicada em
razão de escolhas equivocadas como a superestimação do viés romântico em
detrimento da conotação política que caracterizara aquela, determinados
aspectos do longa-metragem, sobretudo técnicos, garantem-no, por outro lado, a
dose de valor salvadora, no que se destacam os impecáveis trabalhos de
fotografia e de direção de arte, bem como a presença de Isis Valverde linda e
ótima enquanto Maria Lúcia. Ok, essas são virtudes que merecem o devido
registro, mas que, em última instância, não são o bastante para manter de pé um
filme baseado em tão vigoroso e aclamado título. A maior prova disso é que a
execução da música Faroeste Caboclo durante
os créditos finais possui um efeito acachapante sobre o filme¹, lembrando-nos,
como se preciso fosse, qual das duas obras é a que possui verdadeira
importância.
Tomara que Eduardo e Mônica,
caso um dia vá realmente para as telas do cinema, tenha sorte melhor.
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1.Em sentido parecido Rubes Ewald Filho
afirma: “a semelhança do filme com a famosa e longa canção é muito vaga e distante.
Você pode ouvi-la nos letreiros finais e vai ficar estarrecido como pouco tem a
ver com o filme. Que basicamente é uma historia de drogas, os personagens
passam o tempo todo fumando maconha [...] e depois cheirando cocaína com arroubos
de Scarface.” (FONTE: http://rubensewaldfilho.blogspot.com.br/2013/05/faroeste-caboclo.html.
Acesso em 03.06.2013).
FICHA
TÉCNICA
Direção: René
Sampaio
Roteiro: Marcos
Bernstein, Victor Atherino, Paulo Lins
Produção: Barbara
Isabella Rocha
Elenco: Fabrício
Boliveira, Isis Valverde, Felipe Abib, Marcos Paulo, Antonio Calloni, Cinara
Leal,Rodrigo Pandolfo, Juliana Manfredini, Cesar Troncoso
Fotografia: Gustavo
Hadba
Montagem:
Marcelo Moraes
Estreia: 30.05.2013
Duração:
106 min.
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