Marley
Chapa-Branca?
Entre John Lennon e Bob Marley há
uma clara semelhança: ícones da música, ambos jamais conseguiram implementar no
âmbito de seus lares e relações íntimas 1/3 dos ideais de solidariedade e
pacifismo que pregavam e executavam perante o resto do mundo. Por certo, o
histórico de rejeição, sobretudo, na infância e de atribulados ou inexistentes
contatos com seus respectivos pais e mães pode servir de justificativa para um
tipo ambíguo de comportamento que, já na fase adulta, incluía por vezes demonstrações
ferozes quando não truculentas, de suas opiniões profissionais/artísticas.
Neste diapasão, o documentário Marley (2012) possui o mérito de ser bastante abrangente no que tange a vida, a obra e o contexto histórico, social, econômico e político no qual o jamaicano vivera, contudo, desperdiça a oportunidade de se aprofundar no lado negro que o músico, assim como qualquer outra pessoa, também trazia em sua personalidade. Assim, a única falha do rei do reggae escancaradamente denunciada pelo filme reside na sua infidelidade conjugal, deslize esse que é logo atenuado seja pela declaração do próprio de que enquanto rastafári não precisava estar adstrito a padrões ocidentais de conduta como a monogamia, bem como pelo resignado depoimento de sua mulher oficial, segundo a qual, em sendo Marley seu marido, as puladas de cerca não constituíam motivo para ódio ou separação².
Neste diapasão, o documentário Marley (2012) possui o mérito de ser bastante abrangente no que tange a vida, a obra e o contexto histórico, social, econômico e político no qual o jamaicano vivera, contudo, desperdiça a oportunidade de se aprofundar no lado negro que o músico, assim como qualquer outra pessoa, também trazia em sua personalidade. Assim, a única falha do rei do reggae escancaradamente denunciada pelo filme reside na sua infidelidade conjugal, deslize esse que é logo atenuado seja pela declaração do próprio de que enquanto rastafári não precisava estar adstrito a padrões ocidentais de conduta como a monogamia, bem como pelo resignado depoimento de sua mulher oficial, segundo a qual, em sendo Marley seu marido, as puladas de cerca não constituíam motivo para ódio ou separação².
Desta feita, ao camuflar as falhas
do biografado, o diretor Kevin Macdonald deixa que sua admiração por Marley
seja maior que o interesse em discorrer não apenas sobre o mito como também
sobre o homem. Some-se a isso o superficial tratamento dado a determinadas
polêmicas com as quais Marley se envolvera como os supostos flertes com regimes
ditatoriais africanos, além de uma abordagem, convenhamos, rasa sobre a cultura
rastafári³ e o que se tem é um retrato, como já dito, abrangente, porém, pouco
revelador daquele que tanto se dedicara a seu povo e que tanto pregara a paz e
a união mas que como qualquer um carregava demônios capazes de torná-lo uma
pessoa completamente diferente entre aqueles que lhe eram próximos.
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1.Neste sentido, é clássica a relação de amor e ódio entre Lennon e Paul
McCartney assim como notória fora a tensão existente entre Marley e seus
parceiros de início de carreira Peter Tosh e Bunny Wailer.
2.Declaração conformista essa que não deixa de ser estranha em se tratando
da fonte: Rita Marley, aquela que num livro de “memórias”, lançado em 2010,
décadas após o falecimento do marido, não titubeara em chutar cachorro morto ao
acusar Marley de tê-la estuprado.
3.Marley não esclarece quais os
motivos que levaram o imperador da Etiópia Haile Selassie I a ser
considerado a reencarnação de Jesus, crença essa que, como sabido, constituía um dos pontos cruciais do
pensamento rastafári.
FICHA TÉCNICA
Direção: Kevin Macdonald
Produção: Charles Steele
Edição: Dan
Glendenning
Estreia Mundial: 20.04.2012
Duração: 144 min.
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