O Ovo da Serpente
Bergman e a Guerra
Ascensão nazista e experiências científicas com seres humanos são
temas vistos em O Ovo da Serpente
(EUA/Alemanha, 1977). Em se tratando de um filme de Ingmar Bergman causa
estranheza uma trama de assuntos tão abrangentes - cuja filmagem só fora
viabilizada em função de ser essa uma superprodução bancada por um estúdio
norte-americano de grande porte. Todavia, superado esse espanto, é possível
perceber que embora não figure entre os grandes títulos do cineasta, o
longa-metragem possui sim diversos méritos.
Dentro deste contexto, O Ovo da
Serpente é uma espécie de cruzamento entre A Fita Branca (Áustria, França, Alemanha, Itália, 2009), sem a
faceta metafórica deste, com Os Meninos
do Brasil (EUA/Reino Unido, 1978), daí que, por conseguinte, a toada ensaística comum aos trabalhos
de Bergman não é aqui percebida o que, por vezes, chega a ser um problema visto
que determinadas situações pessoais que poderiam até ser mais exploradas como a
atração sexual entre o casal de cunhados (interpretados por uma sempre competente
Liv Ullmann e por um limitado
David Carradine), são deixadas de lado para assim não camuflarem nem se
sobreporem a problemáticas mais amplas.
Ante tal panorama prevalece uma pegada sombria, pesada que muito se
adéqua ao momento histórico retratado do período entre guerras no qual Hitler
inicialmente fracassaria em sua tentativa de golpe de Estado para mais tarde
assumir o Terceiro Reich Alemão e guiar o país num processo esquizofrênico e
megalomaníaco de recuperação da honra e do orgulho germânico feridos pela
derrota na I Guerra Mundial e assinatura do Tratado de Versalhes.
Ao se debruçar por completo sobre essa questão Bergman revela novamente
o excelente autor/escritor que era, agregando impacto ao filme sobretudo quando
do discurso final de um médico nada incomodado com as implicações éticas da
utilização de homens e mulheres em experimentos. Se antes o espectador já havia
sido exposto a chocante sequência do coito fracassado entre um homossexual e
uma prostituta – momento esse que pode até parecer aleatório na trama como um
todo, mas que recupera o Bergman interessado nos conflitos íntimos, individuais
– o encerramento do trabalho a partir da supracitada fala apresenta uma
inquietante lógica para o surgimento do mal e da perversão. E, acredite, nada
pode soar tão incômodo quanto a precisão do pessimismo de Bergman.
Ficha
Técnica
Título Original: The Serpent´s Egg
Direção e Roteiro: Ingmar Bergman
Produção: Dino De
Laurentiis
Fotografia: Sven Nykvist
Figurino: Charlotte Fleming
Elenco: Liv Ullmann, David Carradine, Heinz Bennent, Gert Fröbe, Edith
Heerdegen, James Withmore
Duração:
120 min.
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