Planeta Solitário
Dois
Segundos
Num ato instintivo de autoproteção,
Alex prioriza em certo momento sua
sobrevivência em detrimento da vida de sua companheira Nica.
Ainda que a reação do homem não tarde e ele logo busque remediar o primeiro gesto
de defesa praticado, a pecha do egoísmo e da covardia deixa sua sombra
entre o casal, alterando sobremaneira a conduta da mulher que vê suas certezas
caírem por terra.
Impressiona como Planeta Solitário (EUA/Alemanha, 2011),
na condição de longa-metragem, se justifica e se sustenta em torno dos dois
meros segundos tomados por aquele primeiro ato do personagem de Gael García Bernal. A partir de tão surpreendente
cena ocorre a transição do primeiro para o segundo ato da trama, restando então
alterada toda a concepção do espaço percorrido e dos sentimentos envolvidos.
Desta feita, a paixão de outrora e a beleza das paisagens
visitadas pelos dois são substituídas pelo distanciamento, pela falta de graça
e, sobretudo, pelo silêncio decorrente da dificuldade que ambos tem para tratar
o que lhes aflige. Porém, como os sentimentos e a própria vida são ambíguos, um
confuso resquício de carinho e preocupação da garota (Hani Furstenberg) perante
seu par por vezes dá as caras, o que, vale dizer, não é suficiente para pensar
que tudo voltará a ser com antes – incerteza essa, aliás, bem retratada pelo
final em aberto da obra.
No afã
de ser fiel ao ritmo das fases do relacionamento, a diretora Julia
Loktev peca apenas por exagerar na lentidão dos
tempos mortos manejados para fins de conclusão da segunda metade da obra. Felizmente,
até tal monotonia começar a incomodar, todas as intenções presentes no roteiro¹ já
foram transmitidas e assimiladas pelo espectador, o que, frise-se, resulta
daqueles impactantes dois segundos.
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1.
Segundo Rubens Ewald Filho, o filme é “vagamente inspirado num
conto de Hemingway, alias famoso, A Curta e feliz vida de Francis Macomber, que
por sua vez é baseado num incidente real que sucedeu antes da Segunda Guerra e
que ate virou filme com Gregory Peck em 1947 (Covardia, com Joan Bennett). E
também noutra historia, Exprensive Trips Nowhere, de Tim Bissell. Ambos são
sobre casais de americanos que se aventuram numa excursão por um lugar de
difícil acesso” (FONTE:
http://rubensewaldfilho.blogspot.com.br/2013/06/planeta-solitario.html. Acesso
em 22.01.15) .
FICHA TÉCNICA
Título Original: The Loneliest Planet
Direção e Roteiro: Julia Loktev
Elenco: Hani
Furstenberg, Gael García Bernal, Bidzina Gujabidze
Produção: Helge Albers, Jay Van Hoy, Lars Knudsen, Marie Therese Guirgis
Fotografia: Inti Briones
Montagem: Michael Taylor
Estreia no Brasil: 03.04.14
Duração: 113 min.
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