Carol
Amor
Distante
No que tange o universo dos
filmes que retratam romances lésbicos em suas narrativas, um parâmetro pode ser
considerado como criado: aquele instituído a partir de Azul é a Cor Mais Quente (França, 2013) e sua intensidade física e
emocional. Neste sentido, a paixão avassaladora ali vista é construída paulatinamente
ao longo das três horas de duração do título em meio aos conflitos internos que
a protagonista Adèle inicialmente enfrenta ao se
descobrir bissexual. Tamanha carga dramática, frise-se, é filmada sempre de
muito perto por Abdellatif
Kechiche que assim logra o êxito de
captar o envolvimento da plateia perante uma história de amor comum a todos
independentemente da orientação sexual¹.
Considerando tal parâmetro, Carol (EUA, 2015) é um trabalho que
apesar de fiel ao livro de Patricia Highsmith e a época em que o enredo se
desenvolve – qual seja a década de 1950, momento em que ser homossexual não era
uma opção a ser considerada – pouco dialoga com o tempo presente na medida em
que seu excesso de cautela e pudor se manifesta até quando as personagens
principais se entregam na cama - a impressão passada, dentro deste contexto, é
de que as duas permanecem se estudando e fazendo movimentos calculados mesmo
durante o sexo.
Embora seja elegante a opção
de frequentemente filmar as atrizes por trás de vidros embaçados como forma de
sugerir um amor oculto que não pode ser mostrado para a sociedade, tal cortina
pode também servir de metáfora, ilustração para outra cancela dessa vez
existente entre o material cinematográfico e o receptor que, por seu turno,
permanece a distância assistindo o longa-metragem sem receber qualquer tipo de
provocação que o arrebate e envolva – relação inversa, portanto, a Mise-en-scène de Azul é a Cor Mais Quente e aos efeitos
por ela produzidos.
Quanto ao elenco, merece destaque
o ótimo desempenho de Rooney Mara que capta todas as nuances de Therese Belivet
compondo uma figura retraída, sempre a espreita dos movimentos de Carol, mas ao
mesmo tempo deveras segura quanto a seus desejos e anseios amorosos.
Infelizmente, porém, essa determinação da personagem não é aproveitada pelo
filme a ponto de torná-lo mais caloroso e apaixonado². Ainda que entre quatro
paredes.
______________________
1.
Leia mais sobre Azul é a Cor Mais Quente em http://setimacritica.blogspot.com.br/2014/03/azul-e-cor-mais-quente.html.
2.
Vale lembrar que em Longe do Paraíso (EUA, 2002) Todd
Haynes, diretor de Carol retratara também
uma história de homossexualismo – dessa vez masculino – ocorrido nos anos 50,
mas o fez de modo muito mais memorável seja porque nesse caso a trama fora mais
complexa eis que nela se inclui o relacionamento inter-racial de uma mulher
separada com seu empregado – um escândalo para a época – seja porque se
preocupara não só com o requinte da direção de arte, figurinos e fotografia
como ainda com a verdade dos sentimentos envolvidos.
FICHA TÉCNICA
Direção: Todd Haynes
Roteiro: Phyllis Nagy
Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara Bella Garcia, Blanca
Camacho, Carrie Brownstein, Chandish Nester, Cory Michael Smith, Giedre Bond,
Jake Lacy, Jayne Houdyshell, Jim Dougherty, Jim Owens, John Magaro, Kevin
Crowley, Kyle Chandler, Misty M. Jump, Rileigh McDonald, Ryan Wesley Gilreath,
Sarah Paulson, Steven Andrews, Trent Rowland, William Willet
Produção: Christine Vachon, Elizabeth Karlsen,
Stephen Woolley, Tessa Ross
Fotografia e Montagem: Edward Lachman
Trilha Sonora: Carter Burwell
Estreia: 14/01/2016 (Brasil)
Duração: 118 min.
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