Kong – A Ilha da Caveira
Pastiche
Kong – A Ilha da Caveira (EUA, 2017) se vale de uma estratégia comum ao
cinema-catástrofe dos anos 1970: a utilização de atores consagrados no elenco
como forma de agregar credibilidade ao produto. Dito isso, é uma pena que, não
obstante toda a quantidade de dinheiro disponível para a contratação de tais
artistas, a produção fracasse ao não conseguir extrair o potencial dos mesmos,
o que é resultado da condução do diretor Jordan Vogt-Roberts, visivelmente preocupado em se debruçar sobre o
elemento neófito responsável por diferenciar esta versão de King Kong das anteriores,
qual seja a fusão do tradicional enredo sobre o Rei dos Macacos com filmes de
guerra passados no Vietnã - com destaque especial para o setentista Apocalipse Now (EUA, 1979).
Assim, Vogt-Roberts se concentra em criar um
pastiche de fotografia saturada e CGI exagerado, deixando relegado a um segundo
plano o desenvolvimento dos personagens que, embora no primeiro ato sejam até
devidamente apresentados, não tardam a ser subaproveitados, circunstância que atinge
até mesmo o próprio Kong que deixa de ser protagonista de seu filme para ser
tão coadjuvante quanto todos os outros personagens que, desta feita, transitam
aleatoriamente em torno de uma trama que no fundo quer apenas mostrar explosões
e situações extremas geradas por seus efeitos visuais de ponta, além, vale
lembrar, de preparar terreno para o duelo que em breve o símio terá com
Godzilla¹.
Neste diapasão, por
alguns instantes chega a ser curioso o modo debochado com que a figura de
Samuel L. Jackson é reverenciada por Vogt-Roberts na medida em que aquele é o único ser humano capaz de amedrontar (com um
olhar) o gorilão; porém, a manutenção da piada logo acaba por fazer de seu militar
enfezado uma mera caricatura tal como ocorre com os demais que volta e meia
restam sacrificados por diálogos infames e previsíveis, aspecto esse em que
também merece registro a irrelevante participação da oscarizada Brie Larson. Já
Tom Hiddleston, que já havia chamado positivamente a atenção nos tediosos títulos
da franquia Thor, dessa vez, sem
superpoderes nem figurino esdrúxulo, mostra que de fato tem talento para ser um
perfeito protagonista de ação; para tanto, falta-lhe apenas uma obra focada na
narrativa e o trabalho de direção de alguém capaz de se valer por completo dos
recursos disponibilizados pelo ator, características que, como visto, Kong nem almeja ter.
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1. Conforme escreve
Daniel Reininger: “fica clara a relação
com o filme de Godzilla, afinal a agência Monarch, mesma do filme de 2014, está
por trás da exploração da ilha, sem revelar a ninguém seus reais objetivos:
encontrar organismos gigantescos que são ameaças para a humanidade. [...] a
necessidade de justificar uma possível luta contra Godzilla num
filme futuro faz a trama tomar atalhos e decisões sem muito sentido, que
comprometem a qualidade”. Disponível em: https://www.cineclick.com.br/criticas/kong-a-ilha-caveira.
Acesso em 26.03.17.
Ficha
Técnica
Título Original: Kong:
Skull Island
Direção: Jordan Vogt-Roberts
Roteiro: Dan Gilroy, Derek Connolly, John Gatins, Max
Borenstein
Fotografia: Larry
Fong
Produção: Jon Jashni, Mary Parent, Thomas Tull
Elenco: Tom
Hiddleston, Brie Larson, Samuel
L. Jackson, Corey Hawkins, Emmy Agustin, Eugene Cordero, Jason Mitchell,
Jason Speer, John C. Reilly, John Goodman, John Ortiz, Marc Evan Jackson,
Nicole Hunt, Scott M. Schewe, Sharon M. Bell, Shea
Whigham, Thomas Mann, Tian Jing,, Toby Kebbell, Will Brittain, Andre Pelzer
Montagem: Christian Wagner, Richard Pearson
Estreia
no Brasil: 09/03/2017
Duração: 118 min.
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