The Beatles – Eight Days a Week: The Touring Years
Moldura
Nova
Para fãs já iniciados uma
conclusão resta inevitável: The Beatles –
Eight Days a Week: The Touring Years (EUA, 2016), acrescenta poucas curiosidades
e elementos históricos sobre a trajetória dos quatro rapazes de Liverpool. Considerando
o que já fora explorado em livros e outros documentários semelhantes, fica a
impressão de que o cineasta Ron Howard fez um trabalho sob encomenda voltado não
a apresentar novidades para admiradores de longa data, mas sim a angariar novas
gerações de entusiastas da banda e, com isso, dar novo passo na missão de
perpetuação da imagem e obra dos fab four.
Embora nítido o viés mercadológico
de uma produção que não se acanha em ser repetitiva, a condução de Howard
merece elogios dada a eficiente capacidade de sintetizar um recorte da carreira
do quarteto que não é pequeno, qual seja os dois primeiros terços de sua
existência, época que condensa a formação da banda, os meses de trabalho em
Hamburgo, ainda em 1960, o estouro da beatlemania e o período entre 1964 e 1966
no qual o grupo, já consagrado, se dedicou a fazer apresentações ao vivo
inaugurando a tendência, ainda vigente, de realização de shows em estádios.
Nesta toada, são muitos os tópicos
a serem explorados e Howard o faz a contento, ainda que isso signifique falar
de maneira breve sobre certos assuntos, como a posição contrária a segregação
racial demonstrada pelos artistas, ou até mesmo sacrificar determinados
personagens historicamente cruciais seja falando pouquíssimo sobre eles – como
ocorre com o empresário Brian Epstein e com o produtor musical George Martin –
seja ignorando-os solenemente, vide o silêncio em torno dos ex-integrantes Pete
Best e Stuart Sutcliffe. De qualquer modo, o trabalho de Howard é seguro¹ e ao
seu término acaba deixando um gosto de quero mais no espectador², circunstância
essa que é fruto:
- da forma envolvente com que a falta de novidades é
manipulada pelo diretor (por mais contraditório que isso possa soar);
- do principal período criativo do grupo, iniciado a
partir da transição engendrada pelo álbum Revolver,
não ter sido abordado, ficando de fora, portanto, os anos de psicodelia, flower power e conflitos internos que
provocariam o precoce término dos Beatles.
Ademais, para não injustiçar a
correta realização de Howard, algumas necessárias ponderações a seu favor cabem
ser feitas:
a) desde
que abandonou os palcos e se focou nas engenhosas gravações nos estúdios Abbey
Road, a banda passou a ter registros em vídeo rarefeitos, esparsos, o que
explica o fato de as melhores histórias e relatos dessa fase serem encontrados,
sobretudo, em livros, exceto, frise-se, pelo excepcional Let It Be (Reino Unido,
1970) que até hoje é o documentário definitivo sobre
os Beatles, graças a postura totalmente desinibida com que mostra as
dissidências que não tardariam a separar os músicos;
b) o
boom da beatlemania sobre o qual o
trabalho de Howard dedica boa parte de seu tempo também já havia recebido seu
próprio e definitivo registro pelas mãos, novamente, dos próprios Beatles, através
de Os Reis do Iê Iê Iê (A Hard Day’s
Night, Reino Unido, 1964), misto
de documentário e ficção que capturou com brilhantismo ímpar a alegria e inocência
de uma época em que o humor nonsense daqueles jovens roqueiros ainda conseguia
driblar o cansaço da estrada e a histeria aprisionadora dos fãs.
Dito isso, uma vez que superar tais
registros é uma missão praticamente impossível, restou a Howard se contentar em
criar uma moldura nova para uma tela que se por muitos já é conhecida poderá,
por outro lado, ser descoberta ainda por tantos outros, o que, há de se convir,
é um objetivo deveras louvável.
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1. Daí, por exemplo, não haver hesitação de sua parte em inserir
entrevistas desnecessárias, ainda que afetivas, com celebridades do cinema nem
de encenar uma apresentação da banda e enxertar frames dessa reconstituição
durante a narrativa, para o incômodo de fãs fervorosos e seus olhares clínicos
2. Aplacado pela
excelente revitalização para o formato 4K das imagens e sons do histórico show
no Shea Stadium mostrada nos cinemas após os créditos finais do documentário.
Ficha
Técnica
Direção: Ron Howard
Roteiro:
Mark Monroe
Produção:
Brian Grazer, Nigel Sinclair, Ron Howard, Scott Pascucci
Fotografia: Caleb
Deschanel, Jessica Young, Michael Wood, Tim Suhrstedt
Montagem:
Paul Crowder
Trilha
Sonora: Chris Wagner, Dan Pinnella, Ric Markmann
Estreia: 11.10.2016
Duração:
97 min.
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