Capitão Fantástico
Erros
e Acertos
É comovente a forma como Capitão Fantástico (EUA, 2016) durante
seus dois primeiros atos demonstra comprometimento para com a verossimilhança
dos sentimentos experimentados pelos personagens. Neste sentido, nuances vão
sendo aos poucos descortinadas para mostrar que por mais interessante que possa
parecer a proposta educacional ministrada por Ben Cash (Viggo Mortensen, ótimo como de costume) a
seus filhos, a imposição de um modo de vida selvagem e contrário a sociedade de
consumo capitalista possui lá sua falhas éticas que, por vezes, denotam certo
abuso do pátrio poder.
Tal julgamento, vale dizer, decorre
não de uma manipulação do olhar do espectador porventura empregada pelo diretor
Matt Ross e sim das impressões, por vezes ambíguas, expostas por alguns
personagens coadjuvantes – com especial destaque para o filho mais novo e a
esposa falecida do protagonista. Ressalte-se, contudo, que o genitor da prole
faz o que faz imbuído da melhor das intenções: tornar seus rebentos cidadãos de
bem, saudáveis e detentores de pensamento crítico, objetivo, portanto, comum a
qualquer pai. O problema, dentro deste contexto, é que entre o querer, o fazer
e o conseguir existem certos vácuos equivocadamente preenchidos por condutas
amparadas pela ideia de que os fins justificam os meios, daí frequentemente, em
detrimento da liberdade de ir e vir e de pensamento dos filhos, o pai acabar
por enclausurá-los numa redoma sufocante, esquecendo, assim, que amar também
implica permitir que cada um siga suas próprias escolhas.
Essas complexas relações
familiares, como outrora dito, são construídas com extremo cuidado para que
nenhum personagem seja enquadrado na simplória divisão entre bom e mau. Não a toa, nem as figuras mais agressivas,
como, por exemplo, o sogro/avô interpretado por Frank Langella, podem ser
vistos como vilões, eis que agem tomados pela emoção e na certeza de estarem
fazendo não apenas o que é melhor para si como, sobretudo, para o resto da
família. Os erros e acertos são, desta feita, comuns a todos, sendo, repita-se,
cativante o carinho e respeito do filme pelos personagens que em meio a
tropeços seguem tentando fazer o melhor.
Dito isso, é uma pena que, já em
seu terço final, Capitão Fantástico se
renda a uma toada fantasiosa que inclui o resgate de um cadáver, afastando-se,
por conseguinte, da verdade das emoções a que tanto se dedicara até então. Tal
ato compromete a perfeição que o longa-metragem ameaçava alcançar na medida em
que banaliza uma obra a princípio tão interessada em entender a fundo seus
personagens, bem como as virtudes e consequências de suas decisões. Lamentável
corpo estranho...
Ficha
Técnica
Título
Original: Captain Fantastic
Direção
e Roteiro: Matt Ross
Elenco: Viggo
Mortensen, Ann Dowd, Annalise Basso, Charlie Shotwell, Elijah Stevenson, Erin
Moriarty, Frank Langella, Galen Osier, George MacKay, Hannah Horton, Kathryn
Hahn, Missi Pyle, Nicholas Hamilton, Rex Young, Samantha Isler, Shree Crooks,
Steve Zahn, Teddy Van Ee, Trin Miller,
Produção:
Jamie Patricof, Lynette Howell Taylor, Monica Levinson, Shivani Rawat
Fotografia:
Stéphane Fontaine
Montador:
Joseph Krings
Trilha
Sonora: Alex Somers
Estreia:
22/12/2016 (Brasil)
Duração: 118 min.
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