Como Nossos Pais
Entre
Mocinhas e Vilões
Como Nossos Pais (Brasil, 2017)
deixa claro seu intuito de propagar ideias feministas sob a ótica de uma mulher
de classe média e seu papel e local de fala em uma sociedade patriarcal. Dito
isso, a definição desse viés conceitual pelo roteiro não é nenhum problema, já
que, a bem da verdade, o que torna o produto indigesto é a forma maniqueísta e
manipuladora com que os anseios de uma igualdade entre os sexos são abordados
na medida em que, ainda que nalguns casos o caráter criticável de alguns personagens
masculinos do longa-metragem seja sugerido de modo um tanto sutil - numa
tentativa não exitosa de disfarçar a latente vontade de vilanizá-los por
completo - absolutamente nenhum homem no universo fílmico da diretora Laís
Bodanzky possui comportamento decente, sendo, desta feita, seus desvios de conduta
devidamente expostos num balaio que abrange abandono material e afetivo de pais
pelas filhas, infidelidade, incompreensão e machismo, opção narrativa que
também não seria equivocada caso semelhante tratamento fosse dado as mulheres –
algo que a cineasta até ameaça fazer ao colocar sua protagonista Rosa (Maria
Ribeiro em espécie de extensão de sua participação no programa Saia Justa) na iminência de trair o
marido, possibilidade essa que a tornaria ainda mais humana, mas que é
desperdiçada através de uma moralista combinação de cortes e enquadramentos que
logo apontam que o sexo adiante praticado pela mulher não ocorrera com o pretenso
amante e sim com o esposo num ato altruísta se considerado como nova chance
dada por ela ao seu casamento ou ético se compreendido como despedida e
encerramento de um ciclo para posterior início de outro relacionamento. Desta
feita, Bodanzky não se contenta em mostrar o quanto a mulher é rotineiramente
vítima de um meio excludente como também, e aí reside o erro, molda uma divisão
entre mocinhas e vilões, ignorando, assim, as vicissitudes que cada pessoa possui,
“a dor e a delícia de ser o que é” que acomete cada indivíduo e
que o torna um poço de dubiedades, contradições, bondades e maldades. Em outras
palavras, a matemática pensada pela diretora - com a colaboração de seu marido,
o roteirista Luiz Bolognesi - não se aplica a vida real tão desprovida de exatidão
e definição hermética de comportamentos.
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1.VELOSO,
Caetano. Dom de Iludir.
FICHA TÉCNICA
Direção: Laís Bodanzky
Roteiro: Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi
Produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi, Debora
Ivanov
Elenco: Maria Ribeiro, Clarisse
Abujamra, Jorge Mautner, Paulo Vilhena, Felipe Rocha, Sophia Valverde, Annalara
Prates
Fotografia: Pedro
Márquez
Direção de Arte: Rita Faustini
Estreia: 31/08/17
Duração: 102
min.
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