Dunkirk



O Preço da Coerência
 Dunkirk (Reino Unido/Holanda/França/EUA, 2017) é um assombro de técnica. Típico trabalho para ser visto obrigatoriamente na avantajada tela de um cinema, o filme corresponde a uma virtuosa proposta de direção de Christopher Nolan que rege, tal qual um expert em épicos, os elementos técnicos que fazem da produção um show para olhos e ouvidos.
Com efeito, é inevitável destacar a espetacular direção de fotografia que agrega à produção a noção de grandiosidade dos eventos retratados no que tange os cenários, veículos de guerra, armamentos e contingente bélico que marcaram a verídica retirada de soldados de Dunquerque, resultado esse para o qual muito contribui a opção de Nolan por se valer o mínimo possível de efeitos visuais e, ao invés disso, tal como num longa-metragem de David Lean, filmar em locações reais e utilizar figurantes em quantidade hiperbólica para, assim, tornar o mais próximo possível da realidade a reconstituição proposta.
A tensão dos eventos, nessa toada, aflige o espectador graças não só aos atributos elencados como também a exímia banda sonora que congrega silêncio, estrondos, ruídos e uma trilha musical pontual de Hans Zimmer, cujas excepcionais composições são funcionais quanto ao acompanhamento da ação a ponto de por pouco não migrarem do estado extradiegético para o diegético.
Quanto ao enredo, por mais reprovável, de um lado, o avanço nazista em Dunquerque e, de outro lado, digno de aclamação o recuo providenciado pelos aliados na fronteira franco-belga como forma de evitar que tropas inteiras suas fossem dizimadas pelos alemães, os quais se assim procedessem caminhariam a passos largos para a vitória na II Guerra Mundial, é possível perceber uma clara preocupação de Nolan em não tornar Dunkirk uma patriotada – algo que facilmente poderia ocorrer nas mãos de um Steven Spielberg, por exemplo – daí o tom de frieza e afastamento com que trata seus personagens divididos ou pela busca por sobrevivência ou por senso de dever, categoria última essa que, aliás, é abordada como outra qualquer sem grande louvor e sem músicas edificantes de fundo a enaltecer seus atos. Soma-se a isso uma curiosa e deliberada ausência de rosto para o inimigo que em momento algum é visto em quadro, embora sua sombra esteja sempre à espreita a aterrorizar ingleses e franceses e tem-se uma opção narrativa escorreita ainda que vitimada pela própria coragem e coerência, haja vista que o produto almejado é obtido ao preço de uma dificuldade de envolver em sua integralidade a plateia que segue arrebatada pelo espetáculo visual e sonoro sem, contudo, se conectar aos dramas individuais dos personagens, o que deixa no ar uma sensação de incompletude que impede Dunkirk de ser a obra impecável, perfeita e irretocável propagada por tantos, a despeito de todos os méritos mencionados.
  
Ficha Técnica

Direção e Roteiro: Christopher Nolan
Produção: Christopher Nolan, Emma Thomas
Elenco: Tom Hardy, Mark Rylance, Adam Long, Aneurin Barnard, Barry Keoghan, Bobby Lockwood, Brian Vernel, Charley Palmer Rothwell, Cillian Murphy, Elliott Tittensor, Fionn Whitehead, Harry Styles, Jack Lowden, James D'Arcy, Kenneth Branagh, Kevin Guthrie
Fotografia: Hoyte Van Hoytema
Montagem: Lee Smith
Trilha Sonora: Hans Zimmer
Direção de Arte: Nathan Crowley
Figurino: Jeffrey Kurland
Estreia: 27/07/2017 (Brasil)
Duração: 110 min.

Comentários

  1. Foi o meu filme preferido em 2017. Christopher Nolan como sempre nos deixa um trabalho de excelente qualidade, sem dúvida é um dos melhores diretores que existem, a maneira em que consegue transmitir tantas emoções com um filme ao espectador é maravilhoso. Dunkirk é um filme com un roteiro maravilhoso. É um filme sobre esforços, sobre como a sobrevivência é uma guerra diária, inglória e sem nenhuma arma. Acho que é um dos melhores filmes de guerra é uma produção que vale a pena do principio ao fim. É um exemplo de filme que serve bem para demonstrar o poder do cinema em contar uma história através de sons e imagens, que é, diga-se de passagem, a principal característica da sétima arte.

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