Thor: Ragnarok



Diversão Sem Culpa

Thor: Ragnarok (EUA, 2017) bebe muito da fórmula vista em Homem-Aranha: De Volta ao Lar (EUA, 2017) na medida em que tal qual o encontro visto nesse último entre o aracnídeo e o Homem de Ferro, dessa vez tem-se um filme estrelado por Thor, coprotagonizado por Hulk e acrescido da luxuosa participação especial de Dr. Estranho¹. Tal opção narrativa de abordar mais de um personagem icônico em um filme solo estrategicamente renova o interesse do público que nesse caso ainda é surpreendido com uma inesperada inserção de humor – tal qual costumeiramente ocorre nas histórias do cabeça de teia – responsável por tornar a trama insanamente divertida.
Aliás, entreter parece ter sido a palavra de ordem do diretor Taika Waititi que entrega um filme divertidíssimo a um preço por vezes caro tendo em vista que, numa análise mais abrangente, o êxito completo do título resta comprometido pela deliberada abordagem superficial da vilã Hela - o que faz Cate Blanchett novamente ver uma figura do mal sua ser sacrificada pelas convenções do blockbuster, vide os exemplos de Cinderela (2015) e Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), a despeito da entrega da atriz ao papel. Ademais, soma-se ao panorama de vertentes evitadas pela produção a complexa relação antagônica vivida entre Hela e seu pai Odin que, por seu turno, se revela um ser não tão íntegro e ético como antes propagado, ‘realidade’ essa que se aprofundada por certo agregaria tons sombrios e densos a obra, algo que, por certo essa em momento algum almejara ter².
Sim, a experiência de assistir Thor: Ragnarok às vezes é incomodada pelas ressalvas feitas que, assim, acabam obstruindo o caminho da exuberância plena do longa-metragem, não obstante as muitas gargalhadas que o mesmo proporciona e que fazem com que o entretenimento não reste comprometido, resultado (parcialmente) positivo que é fruto do correto timing cômico do roteiro e do trabalho de direção de Waititi ora valorizado pela colaboração de um elenco de apoio inspirado no qual se destacam Jeff Goldblum, impagável, Tom Hiddleston, ótimo como de costume, e Tessa Thompson que bem transita entre as cenas de ação e sequências ditadas pela ironia. A resignação perante a forma limitada com que se decidiu desenvolver a trama por certo há de deixar o espectador mais focado na mera diversão desprovida de culpa, afinal, de nada adianta exigir do produto algo que ele jamais pretendeu ser ou oferecer.
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1.    Nesse diapasão, merece registro a hilária aparição de um consagrado ator em ponta não creditada.
2.   Talvez a forma com que Thor: Ragnarok busca divertir sem tecer maiores problematizações seja inspirada pelo exemplo, de sucesso, deixado pela franquia Guardiões da Galáxia, podendo, ainda refletir um objetivo de manter o devido afastamento da produção para com os filmes estrelados pelos heróis da DC Comics, os quais por desejarem tanto a apreciação também do público adulto não raro resultam pretensiosos e enfadonhos.

FICHA TÉCNICA

Direção: Taika Waititi
Elenco: Amali Golden, Anthony Hopkins, Ashley Ricardo, Benedict Cumberbatch, Cate Blanchett, Charlotte Nicdao, Chris Hemsworth, Clancy Brown, Georgia Blizzard, Idris Elba, Jaimie Alexander, Jeff Goldblum, Karl Urban, Mark Ruffalo, Rachel House, Ray Stevenson, Shalom Brune-Franklin, Tadanobu Asano, Taika Waititi, Tessa Thompson, Tom Hiddleston, Zachary Levi
Roteiro: Christopher Yost, Craig Kyle, Eric Pearson
Produção: Kevin Feige, Victoria Alonso, Louis D’Esposito, Stan Lee, Thomas M. Hammel, Brad Winderbaum
Fotografia: Javier Aguirresarobe
Trilha Sonora: Mark Mothersbaugh
Montagem: Joel Negron, Zene Baker
Duração: 130 min.
Estreia Brasil: 26/10/17

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