Entre Irmãs



Sacarose e Didatismo

Entre Irmãs (Brasil, 2017) apresenta a jornada de Emília e Luzia, irmãs separadas pela violência, opressão e condições socioeconômicas do local onde viviam. Dito isso, embora tal enredo já detivesse em sua essência potencial suficiente para ser tocante, o diretor Breno Silveira não demonstra segurança nesse sentido e, por conseguinte, apela para todo e qualquer recurso melodramático capaz de provocar a emoção (ou irritação) do público, no que se inclui:

- uma insistente trilha musical que, além de a todo o momento forçar a barra na tentativa de verter lágrimas do espectador, não raro prepara esse último para eventos que estão prestes a ocorrer, colaborando, desse modo, para tornar previsível a trama;
- um trabalho de edição que de maneira recorrente coloca em paralelo (até sob o aspecto da fornicação) as trajetórias das irmãs quando separadas, didatismo extremo esse que denota a pouca confiança do longa-metragem no poder de reflexão da plateia.
Há, porém, alguns breves instantes em que, felizmente, Silveira deixa de lado a vontade de ser didático e de evitar que o público seja incomodado; nessas ocasiões, o cineasta trabalha nas entrelinhas deixando que os sentimentos dos personagens, e consequentemente da plateia, aflorem naturalmente, vide as variações comportamentais experimentadas pelas irmãs a cada evento drástico por elas experimentado¹ – viés esse enriquecido pelo empenho de todo o grupo de atrizes (mais eficientes que a ala masculina do elenco) no que se destaca a participação da dupla de protagonistas e em especial de Nanda Costa, atriz melhor aproveitada pelo cinema que pela TV (tal como visto em Febre do Rato²) e capaz de muito expressar somente com o olhar.
Ocorre que esses pequenos trechos de qualidade, ainda que somados as belas imagens captadas pela direção de fotografia, não são suficientes para impedir que Entre Irmãs se resuma a uma obra rasa que não trata à altura temas oportunos mencionados pelo roteiro, tais como: banditismo social, homossexualidade e independência feminina. Neste passo, a priorização do formato novelesco em detrimento do conteúdo compromete e torna pouco aprazível uma experiência que poderia ser arrebatadora.
_________________
1.Após um grave acidente acontecido ainda na infância as personalidades das irmãs se invertem: a que antes era impetuosa se torna retraída e a que antes era arredia passa a ser destemida, status quo esse que é novamente alterado quando já adultas as duas são separadas contra suas vontades.
2.Leia mais sobre Febre do Rato em https://setimacritica.blogspot.com.br/2012/08/febre-do-rato.html.

Ficha Técnica

Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Elenco: Nanda Costa, Marjorie Estiano, Júlio Machado, Romulo Estrela, Leticia Colin, Cyria Coentro, Rita Assemany, Ângelo Antônio, Fábio Lago, Claudio Jaborandy, Gabriel Stauffer, Ângelo Antônio.
Música: Gabriel Ferreira
Fotografia: Leonardo Ferreira
Direção de Arte: Claudio Amaral Peixoto
Edição: Vicente Kubrusly
Estreia no Brasil: 12.10.2017
Duração: 160 min.

Comentários

LEIA TAMBÉM