Top Gun – Ases Indomáveis
Jovialidade Comprometida
Assistir Top Gun – Ases Indomáveis (EUA, 1986) hoje, com um distanciamento
histórico-cultural de mais de 30 anos, enseja interessantes constatações, senão
vejamos:
a) A concepção imagética levada às telas pelo diretor Tony
Scott já apresenta um recurso que se revelaria recorrente no decorrer de sua
filmografia: o diálogo com linguagens comuns à publicidade e aos videoclipes, vide,
por exemplo, as sequências que exploram os corpos seminus e suados de integrantes
do elenco, plasticidade essa replicada ao longo das décadas em títulos diversos
dirigidos por cineastas como Robert Rodriguez (A Balada do Pistoleiro) e McG (As
Panteras); não à toa, o trabalho de fotografia mantém um frescor crucial
para a relevância e fixação na memória daquilo que visualmente o filme
apresenta, aspecto em que se destacam as sequências protagonizadas por caças
aéreos seja em atividade no ar seja no espaço de um porta-aviões, cenas essas
que para os olhos se mostram joviais, a despeito de uma banda sonora que revela
os traços da idade do produto graças a inserção de rocks farofas que agora soam
um tanto mofados.
b) No que tange a narrativa tem-se uma espécie de
roteiro no momento pouco usual, eis que cada vez mais relegado na contemporaneidade
ao universo dos filmes de ação, qual seja aquele cujo desenvolvimento é na
integralidade estruturado em torno de um macho alfa a quem todos devem
reverência, ainda que assim custem a aceitar, viés esse em que duas sequências
em especial chamam atenção:
1ª - Durante um exercício prático o avião pilotado por
Maverick (Tom Cruise) sofre uma pane e cai, acarretando a morte de seu amigo e copiloto
Goose (Anthony Edwards); ato
contínuo, ao ir ao encontro da viúva (Meg Ryan) para entregar os pertences do
falecido é ela quem tem de levantar para abraçar e, pasmem, consolar aquele primeiro
que permanece calado, incapaz de dizer qualquer palavra de compaixão para a
mulher.
2ª - Adiante, ao superar o trauma da perda do parceiro
e realizar uma tarefa de combate exitosa, Maverick é saudado pelos companheiros
de profissão e pela garota (Kelly McGillis) que, embora dispensada por ele quando
de sua crise existencial, aproveita a fase de restabelecimento do amado para avisá-lo
que continua a sua disposição.
Assim, o enredo trata o protagonista como uma
criança cujo estado de passividade há de ser compreendido e merecedor de toda
sorte de condescendência, o que leva seus atos de rebeldia e de desafio a
autoridade serem não raro minimizados sob a justificativa de que no fundo gozam
de uma saudável ousadia. Dentro deste contexto, o único personagem que realmente
enfrenta Maverick e questiona sob um prisma moral e ético seu modo agressivo de
pilotar é Iceman, um quase inimigo que, apesar da imensa gana com que é interpretado
por Val Kilmer, não é devidamente explorado a ponto de a relação de antagonismo
para com Maverick se mostrar imprescindível para a trama. Equivocadamente, a
produção se concentra de forma exclusiva sobre Maverick que, não obstante o
carisma de seu intérprete, ganharia em valor caso menor fosse a bajulação ao
seu redor. Os tempos eram outros.
Ficha Técnica
Título Original: Top Gun
Direção: Tony Scott
Roteiro: Ehud Yonay, Jack Epps Jr., Jim Cash
Produção:
Don Simpson, Jerry Bruckheimer
Elenco:
Adrian Pasdar, Anthony Edwards, Barry Tubb, Brian Sheehan,
Clarence Gilyard Jr., Duke Stroud, Frank Pesce, James Tolkan, John Stockwell,
Kelly McGillis, Linda Rae Jurgens, Meg Ryan, Michael Ironside, Pete Pettigrew,
Randall Brady, Rick Rossovich, Ron Clark, T.J. Cassidy, Tim Robbins, Tom
Cruise, Tom Skerritt, Troy Hunter, Val Kilmer, Whip Hubley
Fotografia:
Jeffrey L. Kimball
Trilha Sonora: Harold Faltermeyer
Edição: Chris Lebenzon,
Billy Weber
Estreia: 12.05.1986
Duração: 109 min.
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