Paraíso Perdido
O Amor
Livre
É preciso habilidade para num título
de cerca de duas horas condensar satisfatória e igualitariamente as
personalidades e vicissitudes de mais de uma dezena de personagens reunidos,
atributo que infelizmente Paraíso Perdido
(Brasil, 2018) não possui a seu favor. Por conseguinte, a trama resulta
conduzida de forma atabalhoada, tamanho o número de figuras a ela importantes e
que acabam esquecidas pelo caminho – tal como ocorre com a personagem de
Marjorie Estiano – ou subaproveitadas – vide os casos dos seres interpretados
por Erasmo Carlos, Seu Jorge e Felipe Abib. Não fosse o bastante, esse
deficiente desenvolvimento do roteiro se mostra também presente em seus pontos
de virada que, embora fundamentais à narrativa, por vezes soam confusos,
acarretando, assim, uma incômoda sensação de incredulidade perante as coincidências
de que se valem para justificar o (re)encontro das pessoas retratadas.
Dito isso, é curioso como apesar
de inegáveis as inconsistências do script,
a cineasta Monique Gardenberg ainda assim consegue tornar agradável
a experiência do filme, resultado obtido graças:
- ao carisma do elenco (por menor que para alguns
integrantes seja o tempo de tela e/ou o delineamento de seus papeis), no que destacam
principalmente Jaloo e Hermila Guedes, ambos deveras à vontade e sedutores;
- a ambientação cafona que se firma como uma sensível
ode ao brega, na medida em que reproduz com carinho e respeito esse universo ao
invés de estigmatizá-lo e mostrá-lo como algo apenas exótico.
Tais méritos, embora relevantes,
não constituem o principal trunfo da produção que, a despeito dos escorregões citados, há de ser lembrada
pelo modo sincero com que celebra o amor livre e desprovido de amarras e
preconceitos. Neste passo, por mais inegavelmente disfuncional que seja a
família protagonista, no lugar de qualquer traço de julgamento quanto as
escolhas alheias, o que existe entre seus membros é tão somente compreensão,
aceitação e, sobretudo, empenho em ajudar o outro a alcançar a felicidade – por
certo, a força dessa mensagem de tolerância seria ainda maior caso a história
tivesse sido filmada na condição de seriado, já que em assim sendo haveria tempo
suficiente para explorar a contento os conflitos e particularidades de cada
personagem, hipótese essa que não deve ser encarada como um mero devaneio tendo
em vista que Ó Paí Ó (Brasil, 2007),
longa-metragem anterior de Gardenberg, fora um ano após seu lançamento adaptado
para o formato de uma telessérie homônima.
Ficha Técnica
Direção e Roteiro:
Monique Gardenberg
Produção: Augusto
Case
Elenco:
Celso Frateschi, Cristina Mutarelli, Erasmo Carlos, Felipe Abib, Hermila
Guedes, Humberto Carrão, Júlio Andrade, Lee Taylor, Marjorie Estiano, Malu
Galli, Nicole Puzzi, Paula Burlamaqui, Seu Jorge
Fotografia: Pedro
Farkas
Direção
Musical: Zeca Baleiro
Estreia: 31/05/2018
Duração:
110 min.
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