A Montanha dos Sete Abutres
Cinismo e Moralismo
A Montanha dos Sete Abutres (EUA, 1951) discorre sobre a falta de
profissionalismo de um repórter que aproveita o drama de um homem que corre
risco de morte para exercer seu ofício com sensacionalismo voltado ao lucro, vantagem
que acaba também buscada por um sem número de pessoas impulsionadas pela curiosidade
que o caso despertara em toda uma nação.
A partir desse mote Billy Wilder analisa não apenas os
limites éticos do jornalismo como aproveita para dilapidar o american way of
life que exclui uma considerável parcela da população que aparentemente
esquecida em um canto remoto do país possui os mesmos anseios consumistas dos
demais norte-americanos, o que desemboca em uma torrente selvagem de
capitalismo que leva o contingente reunido no plano fílmico a esquecer o motivo
que os unira: a existência de uma vida que clama por salvação, daí Adisakdi
Tantimedh escrever que esse “é um dos filmes mais raivosos e amargos já
saídos de algum estúdio de Hollywood”.
O roteiro tem por fio condutor o jornalista cínico (Kirk
Douglas em atuação celebrada embora por vezes exagerada) que não hesita em
manipular a notícia para seu benefício próprio no que é auxiliado por algumas
figuras igualmente inescrupulosas e interessadas em alguma satisfação pessoal. Apesar
de se valer na construção do arco dramático de recursos narrativos deveras claros
e objetivos, ao perfil psicológico do protagonista são ainda acrescentadas
mensagens implícitas, vide:
- a
arrogância com que cumprimenta um índio, sendo esse um gesto que denota a
posição de superioridade que nutre enquanto homem branco e que o faz,
inclusive, ignorar o fato de se tratar de um território sagrado indígena o
local onde se desenvolve a tragédia por ele noticiada de modo desrespeitoso;
- a
utilização de suspensórios enquanto símbolo de uma vida interiorana que o repórter
detesta e da qual tenta fugir mediante a cobertura de um caso de repercussão
nacional que lhe devolva as cadeiras um dia ocupadas em grandes jornais.
É uma pena que, a despeito de tanto cinismo jorrado ao longo
da obra, seu término se dê de forma tão moralista, o que parece ser fruto da
intenção de Wilder em reforçar o valor da imprensa comprometida com a verdade.
O final trágico um tanto forçadamente conferido ao personagem principal soa
pensado para demonstrar que nesse caso uma maçã podre não é capaz de comprometer
todo o conteúdo restante de um cesto.
________
1. SCHNEIDER, Steven Jay (org.). 1001 filmes para
ver antes de morrer. Rio de Janeiro: Sextante, 2010. p. 257.
FICHA TÉCNICA
Título Original: The Big Carnival / Ace in the Hole
Direção: Billy
Wilder
Produção: Billy
Wilder e William Schorr
Roteiro:
Billy Wilder, Lesser Samuels, Walter Newman
Elenco:
Frances Dominguez, Frank Cady, Jan Sterling, John Berkes, Kirk Douglas, Lewis
Martin, Porter Hall, Ray Teal, Richard Benedict, Robert Arthur
Fotografia:
Charles Lang
Trilha
Sonora: Hugo Friedhofer
Duração:
111 min.
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