Para Roma Com Amor
Nem Tudo Pode Dar Certo
Ao longo de décadas Woody Allen lançou mão de uma fórmula calcada em tipos verborrágicos, neuróticos e piadistas, estratégia essa que, em decorrência de textos quase sempre muito inspirados, rendeu ótimos títulos a sua filmografia. De uns anos para cá a essa estrutura de roteiro somou-se uma estética de cartão postal produto de financiamentos voltados a explorar o potencial turístico das cidades de onde advém o dinheiro necessário para a feitura do trabalho¹.
O problema, neste diapasão, é que uma vez sujeito a prestar homenagens anuais a determinados lugares, o diretor acaba por pesar a mão em determinadas ocasiões, entregando, por vezes, projetos carentes de autenticidade e ineditismo. Por isso, não é de estranhar a sensação de déjà vu a quem experimenta Para Roma Com Amor (EUA/Itália/Espanha, 2012) já tendo antes assistido Meia Noite em Paris, por exemplo.
Não fosse o bastante, Allen repete um erro volta e meia por ele cometido, qual seja o manejo irregular de muitos personagens, tramas e subtramas – tal como pôde ser visto no antepenúltimo trabalho Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos – daí que salta aos olhos como a nova obra é dotada de personagens enfadonhos², envoltos em histórias dispensáveis.
Felizmente, porém, nem tudo se perde nesta realização, afinal, algumas sequências boas e engraçadas podem, sim, ser detectadas, cenas essas que, vale ressaltar, possuem em comum o fato de ter em tela o cineasta apresentando aquele adorado personagem costumeiramente moldado a sua imagem e semelhança.
Além de matar a saudade dos fãs³ angariando em torno de si as melhores piadas do filme, o diretor ainda apresenta uma versão mais jovem do seu alter ego falastrão e inseguro na pessoa do ator Jesse Eisenberg. Considerando que - a não ser por algumas exceções, como o ótimo Todos Dizem Eu Te Amo - o cineasta se sai muito melhor quando lida com um número menor de tipos e de situações, não seria má ideia se numa próxima vez Allen protagonizasse ao lado de Eisenberg e Larry David (ator principal de Tudo Pode Dar Certo) uma historia de poucos plots e de curta duração - tal como feito em seus melhores trabalhos - que, explorasse, mais uma vez, aquele que é um dos grandes trunfos de suas produções: sua presença frente as câmeras. Essas sim são ‘repetições’ que não cansam.
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1. Neste contexto, ao contrário do que alguns podem pensar, não cabe a Allen o rótulo de artista vendido, mas sim de criador sortudo e talentoso o bastante para angariar mecenas não só privados como também públicos.
2. No que se destaca o italiano caricato interpretado por Roberto Benigni neste filme e em todo o resto de sua filmografia.
3. Woody Allen não atuava desde 2006, quando filmou Scoop - O Grande Truque.
Ficha Técnica
Título Original: To Rome With Love
Direção e Roteiro: Woody Allen
Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum
Elenco: Alec Baldwin (John)Alessandra Mastronardi (Milly)Alessandro Tiberi (Antonio)Alison Pill (Hayley)Antonio Albanese (Luca Salta)Carol Alt (Carol)Corrado Fortuna (Rocco)David Pasquesi (Tim)Ellen Page (Monica)Fabio Armiliato (Giancarlo)Flavio Parenti (Michelangelo) Greta Gerwig (Sally)Isabella Ferrari, Jesse Eisenberg (Jack)Judy Davis (Phyllis) Lynn Swanson (Ellen) Marta Zoffoli (Marisa Raguso)Monica Nappo (Sofia)Ornella Muti (Pia Fusari)Penélope Cruz (Anna) Roberto Benigni (Leopoldo)Rosa Di Brigida (Rosa Di Brigida)Vinicio Marchioni (Aldo Romano)Woody Allen (Jerry)
Fotografia: Darius Khondji
Estreia Mundial: 01.06.2012 Estreia no Brasil: 29.06.2012
Duração: 107 min.
Ao longo de décadas Woody Allen lançou mão de uma fórmula calcada em tipos verborrágicos, neuróticos e piadistas, estratégia essa que, em decorrência de textos quase sempre muito inspirados, rendeu ótimos títulos a sua filmografia. De uns anos para cá a essa estrutura de roteiro somou-se uma estética de cartão postal produto de financiamentos voltados a explorar o potencial turístico das cidades de onde advém o dinheiro necessário para a feitura do trabalho¹.
O problema, neste diapasão, é que uma vez sujeito a prestar homenagens anuais a determinados lugares, o diretor acaba por pesar a mão em determinadas ocasiões, entregando, por vezes, projetos carentes de autenticidade e ineditismo. Por isso, não é de estranhar a sensação de déjà vu a quem experimenta Para Roma Com Amor (EUA/Itália/Espanha, 2012) já tendo antes assistido Meia Noite em Paris, por exemplo.
Não fosse o bastante, Allen repete um erro volta e meia por ele cometido, qual seja o manejo irregular de muitos personagens, tramas e subtramas – tal como pôde ser visto no antepenúltimo trabalho Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos – daí que salta aos olhos como a nova obra é dotada de personagens enfadonhos², envoltos em histórias dispensáveis.
Felizmente, porém, nem tudo se perde nesta realização, afinal, algumas sequências boas e engraçadas podem, sim, ser detectadas, cenas essas que, vale ressaltar, possuem em comum o fato de ter em tela o cineasta apresentando aquele adorado personagem costumeiramente moldado a sua imagem e semelhança.
Além de matar a saudade dos fãs³ angariando em torno de si as melhores piadas do filme, o diretor ainda apresenta uma versão mais jovem do seu alter ego falastrão e inseguro na pessoa do ator Jesse Eisenberg. Considerando que - a não ser por algumas exceções, como o ótimo Todos Dizem Eu Te Amo - o cineasta se sai muito melhor quando lida com um número menor de tipos e de situações, não seria má ideia se numa próxima vez Allen protagonizasse ao lado de Eisenberg e Larry David (ator principal de Tudo Pode Dar Certo) uma historia de poucos plots e de curta duração - tal como feito em seus melhores trabalhos - que, explorasse, mais uma vez, aquele que é um dos grandes trunfos de suas produções: sua presença frente as câmeras. Essas sim são ‘repetições’ que não cansam.
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1. Neste contexto, ao contrário do que alguns podem pensar, não cabe a Allen o rótulo de artista vendido, mas sim de criador sortudo e talentoso o bastante para angariar mecenas não só privados como também públicos.
2. No que se destaca o italiano caricato interpretado por Roberto Benigni neste filme e em todo o resto de sua filmografia.
3. Woody Allen não atuava desde 2006, quando filmou Scoop - O Grande Truque.
Ficha Técnica
Título Original: To Rome With Love
Direção e Roteiro: Woody Allen
Produção: Letty Aronson, Stephen Tenenbaum
Elenco: Alec Baldwin (John)Alessandra Mastronardi (Milly)Alessandro Tiberi (Antonio)Alison Pill (Hayley)Antonio Albanese (Luca Salta)Carol Alt (Carol)Corrado Fortuna (Rocco)David Pasquesi (Tim)Ellen Page (Monica)Fabio Armiliato (Giancarlo)Flavio Parenti (Michelangelo) Greta Gerwig (Sally)Isabella Ferrari, Jesse Eisenberg (Jack)Judy Davis (Phyllis) Lynn Swanson (Ellen) Marta Zoffoli (Marisa Raguso)Monica Nappo (Sofia)Ornella Muti (Pia Fusari)Penélope Cruz (Anna) Roberto Benigni (Leopoldo)Rosa Di Brigida (Rosa Di Brigida)Vinicio Marchioni (Aldo Romano)Woody Allen (Jerry)
Fotografia: Darius Khondji
Estreia Mundial: 01.06.2012 Estreia no Brasil: 29.06.2012
Duração: 107 min.
Ótimo texto e nem falou da Ellen Page, então, arrasou! =)
ResponderExcluirJesse Eisenberg ficou ótimo mesmo no personagem, mas eu tenho muita simpatia pelo Roberto Benigni... =/