César Deve Morrer
Fascinante, Porém,
Questionável
No que tange a dicotomia entre
forma e conteúdo, César Deve Morrer (Itália,
2012) há de ser analisado preponderantemente quanto a forma, tendo em vista que
seu enredo não visa inovar a clássica peça de William Shakespeare. Com efeito,
o que importa aqui é o modo inusitado como os irmãos Taviani contam uma
história já há muito conhecida, isso porque, o que se vê é um misto de drama e
documentário parecido ao explorado por outro cineasta italiano, qual seja
Federico Fellini em Roma (Itália,
1972) e, principalmente, Os Palhaços (Itália/França, 1971).
Neste sentido, o estupendo
trabalho de fotografia em muito colabora para demarcar as interferências
artísticas sobre o registro documental, afinal, a variação entre o preto e
branco e o colorido jamais se mostra aleatória, mas sim destinada a frisar a
distinção entre o que representa ou não a liberdade.
Talvez a única medida digna de
questionamentos em termos dramáticos seja a exagerada tentativa de romantização
dos intérpretes que, como sabido, são presidiários em sua maioria condenados
por atividades ligadas ao narcotráfico e a Camorra. O excesso de humanização,
neste contexto, somado a uma trilha musical por vezes desnecessária soa forçado
ou, em outros termos, se revela como uma tentativa pífia de dizer que a arte
redime. Por certo, se os diretores se concentrassem tão somente na forma e a
deixassem isenta de mensagens, o resultado poderia ser ainda mais vigoroso em
relação ao material deixado por Shakespeare.
De qualquer maneira, ainda que a
afirmação corra o risco de parecer contraditória, uma coisa não há de ser
negada, qual seja a capacidade dos Tavianni em extrair performances únicas de
seus “atores”, tornando, desta feita, a jornada de Bruto e Júlio César, no
mínimo, fascinante, desde que guardadas as devidas ressalvas manifestadas.
Título
Original: Cesare deve morire
Direção e Roteiro: Paolo e Vittorio Taviani
Elenco: Cosimo Rega, Giovanni
Arcuri, Antonio Frasca, Juan Dario Bonetti, Gennaro Solito, Vincenzo
Gallo, Fabio Cavalli, Rosario Majorana, Fabio Rizzuto, Maurilio Giaffreda, Vittorio Parrella, Francesco Carusone, Francesco De Masi, Pasquale
Crapetti, Salvatore
Striano
Música: Carmelo Travia, Giuliano Taviani
Estreia Mundial: 18.01.12
Duração: 76 min.
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