Gosto de Cereja
Gosto de Jiló
É possível
falar de um assunto dramático como o suicídio sem qualquer emoção? Em Gosto de Cereja (Irã/França, 1997) Abbas
Kiarostami prova que sim, o que não necessariamente quer dizer que o resultado
seja satisfatório.
Neste sentido,
seja o potencial personagem suicida seja seus possíveis colaboradores na tarefa
são mostrados de maneira fria, por um diretor que se mantém deliberadamente
afastado de seus personagens, denotando, por conseguinte, uma relação de
alteridade que se reflete no público que, incapaz de se envolver ou se
identificar com quem quer que seja, ainda receba a árdua tarefa de enfrentar
uma narrativa que pouco se renova.
Vagaroso, o
trabalho de Kiarostami não almeja grandes plateias, intenção, aliás,
materializada numa sequência final metalinguística que pouco acrescenta, mas
que, por certo, satisfaz uma parcela minoritária que se anima com o puro e
simples rompimento da distinção entre ficção e realidade e entre o cinema da
montagem invisível e aquele que quebra a quarta parede escancarando sua
presença e seu modus operandi.
Frise-se que
não se trata aqui de discriminar toda e qualquer forma de afastamento do cinema
perante aquilo que é rotineiro, comum; afinal, diretores como Federico Fellini
eram mestres em diluir as fronteiras entre o real e o imaginário – vide o
exemplo dado por este no ótimo Os
Palhaços (Itália/França, 1971) –
porque o faziam com beleza, leveza e poesia, o que não ocorre no caso de Gosto de Cereja porque a fissura
proposta por Kiarostami resulta aleatória e desprovida de função e/ou
sentimento. Neste passo, não é porque o cineasta se vale da geografia desértica
de suas locações como metáfora representativa de um estado de espírito que será
possível considerar este um trabalho tocante. É pouco para um tema tão delicado.
FICHA TÉCNICA
Título
Original: Ta'm
e guilass
Direção, Produção,
Roteiro e Montagem: Abbas
Kiarostami
Elenco: Homayon Ershadi, Abdolrahman Bagheri,
Afshin Khorshid Bakhtari, Safar-Ali Moradi, Mir-Hossein Noori, Ahmad Ansari,
Hamid Masoumi, Elham Imani
Fotografia: Homayun Payvar.
Som: Jahangir Mirshekari.
Mixagem de som: Mohamadreza Delpak.
Estreia no Brasil:
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26.12.1997
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Duração:
95min.
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