Coutinho.doc - Apartamento 608
Coutinho.doc - Apartamento 608 (Brasil, 2009) revela parte dos bastidores da
filmagem de Edifício Master (Brasil, 2002)
de Eduardo Coutinho a partir de registros feitos por membros da própria equipe técnica
deste último. Dito isso, o filme por vezes funciona como um making of tardio dada a imponência de
Coutinho determinando aqui e ali o que podia ou valia a pena a ser documentado;
graças a essa postura, uma considerável parte do trabalho discorre apenas sobre
as dificuldades encontradas pelo cineasta para encontrar matéria-prima,
leia-se, gente com depoimentos suficientemente bons para um filme. Ocorre que
tais percalços não são inéditos para quem conhece um pouco da trajetória
profissional de Coutinho cujo método averso a pesquisas de pré-produção está
ilustrado em cada uma de suas obras - encontrando talvez o mais arriscado
exemplo em O Fim e o Princípio
(Brasil, 2005) - razão pela qual Apartamento
608 ganharia em relevância caso versasse não só sobre o modus operandi como também sobre o homem
por trás dele.
Neste sentido, são poucas
as ocasiões nas quais o ser humano Eduardo Coutinho é descortinado; porém, na
brevidade desses momentos é que Apartamento
tem seu principal valor, na medida em que permite a constatação de que para
alcançar seus objetivos o diretor precisava inevitavelmente tratar os eventuais
entrevistados como objetos dotados ou carentes de pedigree consoante o peso de
seus respectivos relatos. Com efeito, a frieza de tal classificação, cabe
ponderar, se estendia até o instante em que o documentarista ficava frente a
frente com os selecionados, afinal, durante as entrevistas Coutinho sempre fora
comprometido com a ética, o que, em última instância, garantia a
individualidade e a integridade da imagem e da fala de cada um.
Já no que tange o antes e
o depois do ato de entrevistar, Apartamento
rapidamente mostra um traço da personalidade de Coutinho que provavelmente
nem todos conheciam: a misantropia. A partir da confissão: "Eu não gosto
das pessoas em geral, não me interesso. Quero uma hora com elas, não a vida
inteira", é possível especular que em sua compreensão o lado bom e/ou a faceta
positiva e interessante de uma pessoa possui um curto prazo de validade. 60
minutos e nada mais.
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1. Publicação em homenagem a Eduardo Coutinho que se vivo estivesse nessa
data completaria 81 anos de vida. Descanse em paz.
Ficha
Técnica
Direção, Fotografia e Som: Beth Formaginni
Edição: Ricardo Miranda,
Joanna Collier
Duração:
51 min.
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