Leonera
A
Maternidade e o Cárcere
Leonera (Argentina/Brasil/Coréia do Sul, 2008) se insere no filão
dos filmes de prisão, porém, em sendo um exemplar do cinema argentino e seu
brilhantismo, o título foge ao óbvio e ao já visto em tantas outras produções
do gênero, garantindo para si o selo de qualidade típico das criações fílmicas
dos hermanos.
Neste sentido, o trabalho de Pablo
Trapero agrega frescor a uma fórmula já muito utilizada na medida em que
redireciona quesitos vitais das narrativas ambientadas em presídios. Assim, tem-se
de tradicional a trajetória que se inicia com o encarceramento, passa pelo
processo de embrutecimento acarretado pela clausura e culmina na execução do
plano de fuga. Todavia, sai de cena o presidiário enquanto figura masculina
trancafiado numa cela junto a colegas de igual ou superior periculosidade para
dar lugar a uma protagonista grávida mantida num pavilhão onde as presas são mães que cumprem pena junto a seus filhos menores de quatro anos. Tal cenário
por si só chama a atenção ao passo em que se trata de uma realidade distante e
não imaginada pelo grande público, eis que pouco ou quase nunca até então
retratada num filme de ficção.
À curiosidade despertada por tal
ambiência e por tais pessoas se soma a habilidade de Trapero para contar a
história com objetividade sem resvalar no sentimentalismo nem soar piegas ou partidário,
mérito obtido em razão de não interessar para o cineasta discutir, além do
estritamente necessário, o que levou a personagem principal ao cárcere nem
investigar se ela possui ou não culpa para tanto. Dentro deste contexto, o que
importa para Trapero é explorar as relações interpessoais estabelecidas entre
as presidiárias, a mudança de comportamento que experimentam a partir da
reclusão e a devastadora separação de seus filhos sofrida quando estes
completam a idade máxima para com elas permanecerem no pavilhão carcerário.
Alia-se ainda a exitosa forma com
que Trapero conduz a narrativa o talento de Martina Gusman que numa irretocável
atuação encara um papel dificílimo sem jamais cometer qualquer deslize. A junção
de Trapero e Gusman representa para o atual cinema argentino uma parceria de importância
tão grande quanto as dobradinhas de Juan José Campanella e Ricardo Darín –
vide, por exemplo, o ótimo Abutres (Argentina,
2010) no qual este último também atua.
FICHA TÉCNICA
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Alejandro Fadel, Martín
Mauregui, Santiago Mitre e Pablo Trapero
Produção: Pablo Trapero, Youngjoo Suh
Elenco: Elli Medeiros, Laura Garcia,
Leonardo Sauma, Martina Gusman, Rodrigo Santoro, Tomás Plotinsky
Direção de fotografia e Câmera: Guillermo Nieto
Direção de som: Frederico Esquerro
Direção de Arte: Coca Oderigo
Figurino: Marisa Urruti
Montagem: Ezequiel Borovinsky e Pablo
Trapero
Estreia: 29.05.2008 Estreia no Brasil: 07.11.2008
Duração: 113 min.
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