Grace de Mônaco



Conto de Fadas Duvidoso

Assim como ocorrido em Diana¹ (Reino Unido, 2013), Grace de Mônaco (França/EUA/Bélgica/Itália, 2015) comete o equívoco de escolher uma atriz inadequada para o papel título. Se no primeiro caso Naomi Watts parecia um tanto franzina ante a exuberância de Lady Di, no segundo caso Nicole Kidman apresenta sinais de envelhecimento incompatíveis com o específico momento vivido entre os anos de 1961 e 1962 pela figura retratada². Dada a necessidade de ter um nome de peso no elenco capaz de garantir o retorno financeiro, a produção dirigida por Olivier Dahan desperdiça a oportunidade de escalar uma atriz nascida para interpretar Grace Kelly, qual seja January Jones que na série Mad Men brilhou ao incorporar Betty Draper, uma dona de casa em muito inspirada pela princesa de Mônaco – além de parecer fisicamente com Kelly, Jones ainda possui a facilidade, tal como visto no seriado, de apresentar a infelicidade da mulher que, apesar das ideais condições materiais de vida, sofre com a solidão decorrente da ausência do marido bem-sucedido, bem como com a impossibilidade de voltar a trabalhar e assim se sentir novamente útil.

Neste sentido, a insatisfação profissional sentida por Grace Kelly a partir do momento em que instada fora a servir como bibelô de seu marido perpassa por um caminho metalinguístico da narrativa que envolve a pré-produção do clássico Marnie – Confissões de uma Ladra (EUA, 1964), na medida em que o convite feito por Alfred Hitchcock para Kelly protagonizar a obra desperta nela o dilema de voltar a ser a estrela de Hollywood de outrora ou permanecer subserviente ao seu amado e as convenções sociais do principado regido por aquele. Embora interessantíssimo, lamentavelmente esse plot não é explorado a contento, sendo deixado de lado na trama por um viés político que defende uma influência um tanto inverossímil³ da princesa sobre a resolução da crise a época existente entre Mônaco e a França então governada pelo Gel. Charles de Gaulle - cuja participação no filme se resume a algumas caras e bocas. Desta feita, Grace de Mônaco abre duas frentes de abordagem sem resultar satisfatório em nenhuma, isso porque se contenta com um simples relato romantizado e novelesco que, ao contrário, tinha plenas condições de soar mais denso e marcante.
Incoerentemente o cinema não tem sabido lidar com as cinematográficas histórias das princesas mais recentes da história contemporânea...
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1.     Leia mais sobre Diana em http://setimacritica.blogspot.com.br/2015/03/diana.html.
2.    Em sentido semelhante Mariane Morisawa pondera: “Dá para entender que Nicole Kidman, a loira gelada dos tempos de hoje, interprete a loira gelada dos anos 1950. Mas, sem querer cair em preconceitos, é exigir demais do público que acredite nos dilemas da protagonista, que originalmente tinha 32 anos na época dos eventos do filme (26 ao largar a carreira para virar realeza), quando ela é interpretada por uma mulher de 46” (FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/grace-de-monaco-e-um-desastre-quase-completo/. Acesso em 26.11.15).
3.   Dentro deste contexto, Cássio Sterling Carlos alerta: “O aviso, nos créditos, de que ‘se trata de uma obra ficional, baseada em fatos reais’deve ser levado em consideração. Em vez de adotar o modo da cinebiografia tradicional, ‘Grace de Mônaco’ prefere delirar sobre a história real” (FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/10/1700134-apedrejado-em-cannes-grace-de-monaco-nao-e-ruim-como-dizem.shtml. Acesso em 26.11.15).

FICHA TÉCNICA

Título Original: Grace of Monaco

Direção: Oliver Hirschbiegel

Roteiro: Asash Amel

Elenco: Nicole Kidman, Tim Roth, Frank Langella, Roger Ashton-Griffiths, André Penvern, Paz Veja, Parker Posey, Geraldine Somerville, Jean Dell, Jeanne Balibar, Milo Ventimiglia, Nicholas Farrell, Philip Delancy, Robert Lindsay, Derek Jacobi

Produção: Arash Amel, Pierre-Ange Le Pogam

Fotografia: Éric Gautier

Montagem: Olivier Gajan

Estreia: 29/10/2015

Duração: 103 min.

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