Perdido em Marte
Otimismo
Inverossímil
Considerando que Perdido em Marte (EUA, 2015) narra a
saga do astronauta deixado para trás sozinho no planeta vermelho, faz sentido
Ridley Scott dizer que seu filme consiste na “versão em ficção científica de Robinson Crusoé”. Tal analogia,
inevitavelmente, traz em seu bojo toda uma idéia de solitude decorrente da
falta de companhia do homem abandonado em um ambiente inóspito, daí ser tão
frustrante a constatação de que o longa-metragem preferira deixar de lado
qualquer abordagem psicológica ou metafísica para se concentrar na mera toada
do entretenimento. É claro que tal opção é válida – até porque como bom
contador de histórias que é Scott apresenta uma narrativa bem amarrada que não
cansa e diverte – porém, de forma inconteste, surpreende qualquer espectador
mais experiente e/ou exigente a falta de ambição artística daquele que um dia
levara para as telas de maneira tão enigmática e cool o conto Blade Runner
de Philip K. Dick.
Neste passo, a produção perde a
oportunidade de explorar a contento seus personagens coadjuvantes,
aproveitando, portanto, de modo parco o elenco de peso que possui. Assim, a
narrativa segue focada nas costas de Matt Damon que acaba enclausurado por um
roteiro inverossímil que não hesita em tornar descontraído e esperançoso o
comportamento do protagonista. Some-se a isso o fato de que a direção de Scott
não demonstra qualquer intenção de deixar menos engraçadinha a jornada
intimista e dramática do astronauta, daí que a Damon resta apenas se adaptar
com o mínimo de dignidade a tal levada - aliás, o intuito de fazer um produto
voltado precipuamente para a diversão é tão notório que a produção comete o
exagero de fazer da trilha musical um respiro cômico, fazendo, desta feita, que
as canções disco reproduzidas soem um
tanto insuportáveis.
Levando em conta o rasteiro
aproveitamento do potencial dramático da história, resulta mais interessante
ver ou rever a trajetória da incansável e não menos desesperada perdida no
espaço interpretada por Sandra Bullock em Gravidade¹
(EUA, 2013) ou até mesmo optar pela mais emocionante versão não oficial de
Robinson Crusoé já filmada, qual seja Náufrago
(EUA, 2000) e a arrepiante atuação de Tom Hanks, solitário praticamente do
início ao fim do filme exceto pela companhia de seu Sexta-feira materializado
no icônico Wilson. Eis um caso em que apenas um homem e uma bola são muito mais
significativos do que toda a parafernália tecnológica e grande elenco de Perdido em Marte. O menos é mais.
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1.
Leia mais sobre Gravidade
em http://setimacritica.blogspot.com.br/2013/10/gravidade.html.
FICHA
TÉCNICA
Título
Original: The Martian
Direção: Ridley
Scott
Roteiro: Drew Goddard
Elenco: Matt Damon,
Jessica Chastain, Aksel
Hennie, Brian Caspe, Chen Shu, Chiwetel Ejiofor, Donald Glover, Eddy Ko, Enzo
Cilenti, Geoffrey Thomas, Greg De Cuir, Gruffudd Glyn, Jeff Daniels, Jonathan
Aris, Kate Mara, Kristen Wiig, Lili Bordán, Mackenzie Davis, Mark O'Neal, Matt
Devere, Michael Peña, Mike Kelly, Naomi Scott, Narantsogt Tsogtsaikhan, Nick
Mohammed, Peter Linka, Sean Bean, Sebastian Stan, Szonja Oroszlán, Yang Haiwen
Produção: Mark Huffam,
Michael Schaefer, Ridley Scott, Simon Kinberg
Fotografia: Dariusz Wolski
Montagem: Pietro Scalia
Trilha Sonora: Harry
Gregson-Williams
Estreia: 01/10/2015
(Brasil)
Duração: 141 min.
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