O Julgamento de Viviane Amsalem / A Separação
Bom
Para Todos
Há quem aponte O Julgamento de Viviane Amsalem (Israel/Alemanha/
França, 2014) como um novo A Separação (Irã, 2011), oscarizado trabalho
de Asghar Farhadi. Contudo, ainda que ambos os filmes discorram sobre términos
de matrimônio, a comparação é reducionista uma vez que as diferenças entre os
dois são deveras salientes. Assim, se no caso do primeiro título a protagonista
Viviane esbarra na objeção de seu marido quanto ao divórcio, na produção iraniana
a mulher recebe de imediato a anuência do consorte perante sua intenção de pôr
fim à relação - ficando pendente nesse contexto apenas a questão da guarda da
filha.
Desta feita, A Separação aborda
não o rompimento em si, já que este se mostra incontroverso, mas sim as consequências
catastróficas advindas a partir dele para os envolvidos, viés esse que serve
para levantar uma interessante reflexão: a decisão de largar tudo em prol de
uma melhor qualidade de vida, como feito pela esposa, configura um ato de
liberdade ou de egoísmo?
Por seu turno, O Julgamento de Viviane Amsalem tem por
foco preponderante a própria separação na medida em que a personagem principal
tem a vida estancada por anos graças a recusa do marido em deixá-la seguir
longe dele. Para Viviane não há dia seguinte nem eventos trágicos posteriores,
mas sim a clausura de viver submetida a uma relação falida e não poder
experimentar a liberdade almejada em decorrência dos preceitos religiosos de
uma sociedade patriarcal na qual o laicismo é uma utopia, daí sua ação de divórcio
ser julgada em um tribunal rabínico que macula o ordenamento jurídico através
de procedimentos nos quais a ciência do Direito cede espaço a religião.
Indo além nas particularidades que
diferenciam as obras, A Separação possui um roteiro muitíssimo bem amarrado
no qual, como outrora mencionado, uma sucessão de ocorrências graves, não raro
influenciados pelos ditames do Alcorão, forçam o encontro dos personagens em
locais diversos - no que se incluem suas residências, uma delegacia, um
hospital, um colégio e a sede local do Poder Judiciário - numa espiral
dramática em que os seres que dela fazem parte ultrapassam a fronteira da
racionalidade e até da honestidade manipulando a verdade em atenção ao seu
instinto de preservação e em decorrência de sua natureza humana e, por
conseguinte, falha. Já em Viviane Amsalem
impressiona a forma veemente com que um argumento curto sustenta o filme ao
longo de duas horas; os personagens, nesse sentido, são vistos praticamente em
tempo integral entre as quatro paredes de uma sala de audiência numa eficiente
alusão a prisão que se tornara a vida da mulher que ousara romper o sacramento
do casamento “apenas” por não mais sentir afeto pelo companheiro, estratégia
narrativa essa que poderia soar tediosa e que assim não se comporta em razão do
ótimo desenvolvimento das problemáticas inerentes e impeditivas da homologação
do divórcio, bem como a forma com que sem artificialismos são delineados os
comportamentos das figuras retratadas: os homens são em grande parte frios e
indiferentes a demanda feminina enquanto as mulheres, sejam elas condicionadas ou
não a humilhação de permanecer subservientes a vontade de seus senhores e do
Estado que assim as manipula, são retratadas sem vitimismo, ainda que com maior
dose de emoção. A partir de recursos mínimos O Julgamento de Viviane Amsalem se impõe como um poderoso libelo
feminista em defesa de mulheres vilipendiadas em suas vontades, sendo assim um
colosso na luta contra a misoginia e a opressão masculina silenciosa ou estridente.
Destarte, tais produções entregam variações de um tema em comum, podendo servirem de complemento uma para a outra conforme a
interpretação e o desejo do espectador. Seja como for, o que não é correto, porém,
é a comparação barata das obras como se pudessem ser confundidas, afinal, cada
uma possui objetivos particulares e raios de ação próprios, o que, por óbvio, é
bom para todos e, principalmente, para o cinema.
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1.Leia mais sobre A Separação
em http://setimacritica.blogspot.com.br/2012/04/separacaocenas-de-um-casamento.html.
FICHA TÉCNICA - O Julgamento de Viviane Amsalem
Direção e Roteiro: Ronit Elkabetz, Shlomi Elkabetz
Elenco: Abraham Celektar, Albert Iluz,
Dalia Beger, David Ohayon, Eli Gornstein, Evelin Hagoel, Gabi Amrani, Keren
Mor, Menashe Noy, Rami Danon, Roberto Pollack, Ronit Elkabetz, Sasson Gabai,
Shmil Ben Ari, Simon Abkarian
Produção: Denis Carot, Marie Masmonteil,
Sandrine Brauer, Shlomi Elkabetz
Fotografia: Jeanne Lapoirie
Montador: Joel Alexis
Trilha Sonora: Bassel Hallak
Estreia: 20/08/2015 (Brasil)
Duração: 115 min.
FICHA TÉCNICA – A SEPARAÇÃO
Direção, Roteiro e Produção: Asghar Farhadi
Elenco: Ali-Asghar Shahbazi, Babak
Karimi, Kimia Hosseini, Leila Hatami, Merila Zarei ED Hayedeh Safiyari, Peyman
Moadi, Sareh Bayat, Sarina Farhadi, Shahab Hosseini, Shirin Yazdanbakhsh
Fotografia: Mahmoud Kalari
Estreia: 20/01/2012 (Brasil)
Duração: 123 min.
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