O Regresso
Reunião Exitosa
O Regresso (EUA, 2015) reúne o melhor de dois mundos presentes na filmografia de Alejandro
González Iñárritu, uma vez que alia com perfeição o seu fascínio pela desgraça – vista de forma recorrente em obras como Biutiful (Espanha, 2010), 21 Gramas (EUA, 2003) e Amores Brutos (México, 2000) – ao dinamismo
da linguagem clássica do cinema norte-americano, aspecto último esse que ganha
contornos ainda mais nítidos por tratar o filme em seu enredo de Hugh Glass, um
caçador de peles cuja vida marcara por agruras o habilitou a se tornar uma lenda
do folclore estadunidense.
Com efeito, para narrar a
impressionante história de Glass que, em 1823, mesmo abandonado na natureza
selvagem com parcas condições de saúde, enfrentou toda sorte de desafios em
busca de vingança contra o algoz que ceifou a vida de seu filho e tramou contra
a sua, Iñárritu se vale de
uma narrativa vertiginosa que intercala momentos de arrebatadora tensão com
sequencias de notável beleza e candura – nitidamente inspiradas em A Árvore da Vida (EUA, 2011) e Amor Pleno (EUA, 2012), de Terrence Mallick, no que tange a forma como a câmera percorre
paisagens e locações.
Neste sentido, de grande importância
se revela o oscarizado trabalho de fotografia de Emmanuel Lubezki na medida em que
torna cada plano uma pintura viva capaz de realçar a crueza de uma região ainda
tão inóspita e de um modo de vida tão truculento. Não a toa todo o perigo e
toda violência resultam deveras palpáveis, o que também é fruto, vale lembrar, da excelente edição sonora que
permite ao espectador a sensação de pertencer ao universo fílmico – sem apelar
para o famigerado recurso da terceira dimensão – além, é claro, das impecáveis
interpretações de Tom Hardy e, principalmente, Leonardo DiCaprio que se mostra
o ator perfeito para encarnar toda diversidade de sofrimentos desenhada por Iñárritu
a partir do romance de Michael Punke.
É bem verdade que O Regresso não goza
de ineditismo, sendo até um tanto previsível no decorrer de sua narrativa,
porém, há de ser considerado que esse é o tipo de obra em que mais vale
compreender e se deliciar com a forma feroz com que o conteúdo é levado para as
telas e com as reflexões que este, a despeito de sua certa previsibilidade,
consegue fomentar, o que nesse caso abrange o viés virulento com que o homem se
relaciona entre si e com o meio ambiente que o abriga.
E é assim, com arrimo nos tradicionais enredos
hollywoodianos de luta por sobrevivência em meio a uma natureza primitiva e de
busca incessante por vingança, que Iñárritu tem a seu dispor um prato cheio para
explorar e congregar aquilo que de melhor e mais marcante há em seus filmes,
tarefa essa cumprida sem qualquer desperdício.
Ficha Técnica
Título Original: The
Revenant
Direção: Alejandro González Iñárritu
Produção: Alejandro González Iñárritu,
Arnon Milchan, David Kanter, James W. Skotchdopole, Keith Redmon, Mary Parent,
Steve Golin
Elenco: Tom Hardy,
Leonardo DiCaprio, Brad Carter, Brendan Fletcher, Dave Burchill, Domhnall
Gleeson, Javier Botet, Joshua Burge, Kory Grim, Kristoffer Joner, Lukas Haas, Paul Anderson, Robert Moloney, Will Poulter
Trilha Sonora: Bryce Dessner, Carsten Nicolai,
Ryûichi Sakamoto
Fotografia: Emmanuel Lubezki
Montagem: Stephen Mirrione
Estreia no Brasil: 04.02.2016
Duração: 151 min.
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