Chico – Artista Brasileiro
Resumo com Novos Capítulos
Chico – Artista Brasileiro (Brasil, 2015) funciona como resumo da extensa
série documental feita para a televisão no início dos anos 2000¹, o que não
torna o longa-metragem descartável considerando que:
- a trajetória do músico
e escritor é sempre prazerosa de ver e ouvir;
- o biografado se
mostra inspiradíssimo em determinados trechos de seu depoimento seja quando
traça um paralelo da grande quantidade de tempo que seus atuais projetos tomam
para ver a luz do dia em paralelo ao número de anos de vida um tanto pequeno
que ainda lhe resta, seja quando comenta sobre a natureza popularesca e nem
sempre agradável da presente música brasileira em contraponto ao caráter
elitista que décadas atrás a mesma possuía e que por isso, a seu ver, não representava a verdadeira cara
do país a despeito da incontestável qualidade de movimentos como a bossa nova.
Falas
como essas associadas aos constantes atos de oposição a ditadura e consequentes
represálias sofridas durante os anos de chumbo permitem compreender o porquê de
Chico Buarque ainda hoje se posicionar ao lado de líderes de esquerda
destronados. O posicionamento do artista, desta feita, pode até não parecer
lógico ante uma realidade presente na qual praticamente nenhuma figura política
inspira confiança, porém, ao menos demonstra coerência para com suas lutas de
outrora, ainda que para alguns isso possa ser compreendido como reflexo do
comportamento de negação estudado por Freud². Seja como for, tal aspecto da
narrativa é responsável por tornar oportuno o documentário, eis que, como
sabido, o biografado nos últimos meses fora deveras questionado por sua postura
em defesa da ex-presidente declarada impedida de concluir o mandato.
Além
de dialogar com esse novo capítulo de críticas e protestos enfrentado com
indubitável destemor pelo protagonista, o filme de Miguel Faria Jr ainda apresenta dois outros elementos que lhe
garantem certa diferenciação na comparação para com a supracitada série de TV,
quais sejam a busca de Chico por notícias do irmão que nascera e vivera na
Alemanha, bem como os números musicais que, apesar das melhores intenções exaladas,
soam deslocados em meio a linguagem documental que, por certo, clamava por mais
imagens de arquivo como a de Chico e Maria Bethânia gravando num estúdio do que
reinterpretações desnecessárias que nada de novo acrescentam a obra do
homenageado.
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1. Leia mais sobre a referida série em http://setimacritica.blogspot.com.br/2012/06/colecao-chico-buarque-vol-8-o-futebol.html.
2. Neste sentido, recomenda-se a leitura do artigo de José
Padilha intitulado Lula, Freud e o Futuro
da Esquerda disponível em http://oglobo.globo.com/brasil/artigo-lula-freud-o-futuro-da-esquerda-18816013.
Ficha
Técnica
Direção, Roteiro
e Produção: Miguel Faria Jr
Fotografia: Lauro
Escorel
Montador:
Diana Vasconcellos
Estreia:
26/11/2015
Duração: 116
min.
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