Pequeno Segredo
Constrangedor
“‘Pequeno segredo’ é um oceano de clichês e
sentimentalismo. A narrativa é piegas, as imagens são piegas, a banda sonora é
piegas, a direção é de uma platitude sem fim.
[...] um
filme não se faz com boas intenções. É preciso talento. O diretor David
Schurmann tem mais das primeiras que do segundo, infelizmente.
Em seu segundo longa, ele é incapaz de encontrar
um enquadramento que não repita cartões-postais ou imagens de TV ou publicidade.
[...]
A trama se desenvolve por tempos justapostos,
passado e presente. Não é coisa fácil de fazer no cinema. E as soluções
encontradas pelo roteiro não são felizes: tudo segue aos solavancos, as
situações parecem repetitivas, os personagens se perdem, alguns são apenas
espectros, como os irmãos Schurmann”¹.
Irrepreensível, a crítica de
Alcino Leite Neto torna árdua a tarefa de acrescentar algo novo aos comentários
sobre Pequeno Segredo. Ciente do risco
do tropeço, segue a tentativa.
Pequeno
Segredo (Brasil, 2015) poderia passar
despercebido não fosse sua contestada eleição para concorrer a uma vaga na
disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, além das nada modestas
declarações do diretor David Schürmann em defesa da obra. Tamanha exposição do
trabalho em decorrência de fatores extracampo acabou por torná-lo conhecido
país afora, o que, consequentemente, poderá lhe garantir futuros dividendos nas
bilheterias. E só.
Constrangedor, o longa-metragem não
dispõe de qualidades cinematográficas mínimas para galgar qualquer premiação
nem fincar pés na memória cinéfila a não ser pela polêmica supracitada. Neste
passo, a produção almeja ser épica, apresentar imagens arrebatadoras e uma
narrativa tocante, todavia fracassa em todas essas metas, afinal:
- a direção de fotografia, pretensiosa, tenta a todo custo criar
sequências de grande beleza (o que explica o abuso com que tomadas aéreas são
utilizadas), porém, resvala na superficialidade na medida em que deixa de demonstrar
qualquer assinatura própria para, em contrapartida, optar por uma linguagem
nitidamente publicitária mesclada a referências fílmicas que variam entre
trabalhos recentes de Terrence Mallick como Árvore
da Vida² e Amor Pleno, com pitadas
das ideias apresentadas por Petra Costa em Elena³;
- o drama não consegue envolver o espectador, haja vista que a
história transcorrida ao longo de tempos diversos acaba prejudicada pela edição
que, no afã de articular uma narrativa não linear e manter em sigilo o segredo
do título, apresenta cortes mal posicionados que interrompem as tramas justo
quando elas começam a despertar interesse; some-se a isso um elenco
subaproveitado – Marcello Antony, por exemplo, quase nada fala – quando não
sofrível, como é o caso das desastrosas atrizes mirins e do insosso casal interpretado
por Maria Flor e Erroll Shand.
A mão pesada de Schürmann, vale
dizer, é perceptível não apenas no trato com os atores. Neste diapasão, a direção
em sua integralidade sucumbe ao método barato, de diálogos piegas, com que
busca causar comoção. Sua toada maniqueísta - vide os aborrecidos e
diametralmente opostos papeis de Fionnula Flanagan e Júlia Lemmertz - gera personagens
rasos, produtos do claro desejo de sensibilizar o público ante a dramática trajetória
da irmã adotiva do cineasta.
Embora nítido o quão comprometedor
fora para o filme o envolvimento íntimo de Schürmann com a história retratada,
por uma questão de justiça cabe ressaltar que há um momento em que a produção
perde o ar novelesco e assume uma postura de cinema de autor, qual seja a
sequência em que Jeanne (Maria Flor) se une a um grupo de pessoas que tenta manter
viva uma baleia encalhada na praia. Nesse instante metafórico os gestos dizem
muito, dispensando as palavras e não a inteligência da plateia que enfim recebe
algo não mastigado e realmente tocante. Resta torcer por mais baleias na
filmografia de Schürmann.
___________________________
1.Disponível
em <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/09/1812668-cliche-pequeno-segredo-e-dos-piores-filmes-brasileiros-recentes.shtml>.
Acesso em 01.10.2016.
2. Leia
mais sobre A Árvore da Vida em http://setimacritica.blogspot.com.br/2011/09/arvore-da-vidalimite.html.
3.Leia
mais sobre Elena em http://setimacritica.blogspot.com.br/2013/08/elena.html
Ficha Técnica
Direção:
David Schürmann
Roteiro: David
Schürmann, Marcos Bernstein, Victor Atherino
Elenco:
Erroll Shand, Fionnula Flanagan, Júlia Lemmertz, Marcello Antony, Maria Flor,
Michael Wade, Ryan James
Produção:
David Schürmann, João Roni, Vilfredo Schürmann
Fotografia:
Inti Briones
Montagem:
Gustavo Giani
Trilha
Sonora: Antonio Pinto
Estreia:
10/11/2016 (Brasil)
Duração:
107 min.
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