Náufrago
A
Ser Valorizado
À época de seu lançamento Náufrago (EUA, 2000) galgou vagas nas
disputas pelas premiações mais badaladas da indústria cinematográfica, porém, o
reconhecimento nesse sentido acabou aquém do esperado. O tempo curiosamente tem
exercido sobre o longa-metragem um duplo efeito qual seja o de ser esquecido ou
até desconhecido por novas gerações, a despeito de um amadurecimento que, ao
invés de deixá-lo antiquado, apenas solidifica suas qualidades técnicas e torna
cada vez mais fascinantes seus efeitos sobre os olhos e sentimentos do público,
denotando, por tabela, o talento de Robert Zemeckis enquanto contador de
história, além do estupendo trabalho físico e psicológico de Tom Hanks.
Como sabido, durante cerca de 80%
de sua duração Náufrago dispõe de um
único personagem na tela, o que resulta numa rigorosa ausência de diálogos e de
narração em voz over que poderia soar
tediosa não fosse a capacidade de Zemeckis em extrair do solitário cotidiano do
protagonista elementos relevantes o bastante para agregar importância a cada
minuto de sua estadia em uma ilha deserta, daí Celso Sabadin escrever que o
cineasta proporciona: “uma descoberta a
cada cena, uma envolvente aula de direção cinematográfica [...]Uma prova inconteste de que a grande e
verdadeira qualidade do cinema está, acima de tudo, numa história bem contada e
não na estressante correria visual que predomina”¹.
Dentro deste contexto, enquanto
variação do romance Robinson Crusoé,
revela-se magistral a decisão da produção por transformar o personagem Sexta-feira
em uma bola de vôlei, estratégia que salienta o estado de carência do náufrago
e toca fundo no momento em que este fragilizado, desesperado e com as forças
por um fio é levado a se separar de seu ‘parceiro’. Merece também registro a
coragem da obra ao não entregar o final feliz almejado pelo protagonista que,
numa metáfora visual bastante clara, é deixado ao término sem uma rota determinada
a seguir, sem um futuro traçado e sem saber se sua vida um dia voltará aos
trilhos. A frustração experimentada pelo personagem aumenta a cumplicidade e
solidariedade da plateia, coroando a condução de Zemeckis que, não obstante alguns
problemas percebidos durante as sequências iniciais, tão logo inaugurado o
segundo ato, já na ilha, mostra os exatos termos necessários a criação da definitiva
versão fílmica de Crusoé.
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1. Disponível em https://www.cineclick.com.br/criticas/naufrago.
Acesso em 15.01.17.
Ficha Técnica
Título Original: Cast Away
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: William Broyles
Jr.
Elenco: Tom Hanks, Elden Henson, Christopher Noth, Helen
Hunt, Lari White, Michael Forest, Nick Searcy, Viveka Davis
Produção: Jack Rapke, Robert Zemeckis, Steve Starkey, Tom Hanks
Fotografia: Don Burgess
Trilha
Sonora: Alan Silvestri
Duração: 143 min.
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