La Land – Cantando Estações



 Nem Tanto ao Mar Nem Tanto à Terra

Beneficiado por uma temporada de premiações marcada pela baixa concorrência, La La Land – Cantando Estações (EUA, 2016) não chega a ser a obra-prima propagada por tantos, embora possua inquestionáveis méritos. Dito isso, a história do encontro entre um homem e uma mulher que a princípio se detestam, mas que não custam a se apaixonar não possui nada de novo, podendo o mesmo ser dito quanto a ambientação de tal fórmula no formato musical, daí que para dar um ar de ineditismo à trama o roteiro de Damien Chazelle traça um paralelo metafórico, nem tão relevante, entre as estações do ano e o irradiar de um amor, passando pelo arrefecimento até o afastamento.
Neste passo, o longa-metragem cresce e se torna comprometido com a verdade dos sentimentos justamente quando encara a tristeza sem receio de corromper a receita de bolo usada como ponto de partida. Trocando em miúdos, os caminhos profissionais trilhados pelos protagonistas levam ao sucesso de seus respectivos projetos individuais os quais, por seu turno, caminham por vias paralelas que, como sabido, não se cruzam. Assim, na medida em que o rumo de cada um acaba por deixar o outro distante, La La Land se torna factível e melancólico, acertando ao abandonar o tom de conto de fadas e abraçar a frustração inerente a um amor que insiste em existir a despeito dos fatores que o impedem de ser vivido no tempo presente.
Não obstante tal viés também já tenha sido visto em outras obras que como La La Land fazem a radiografia de um relacionamento, a realização em comento concede novo fôlego e valor a tal linha narrativa graças, sobretudo, a sequência em que o personagem de Ryan Gosling imagina como teria sido a vida ao lado de sua paixão caso algumas escolhas fossem diferentes¹, aspecto esse em que a toada musical se justifica para além de uma homenagem ao gênero e entrega um dos mais belos e tristes retratos de um sentimento vitimado pelo tempo e pela individualidade, ocasião essa na qual a produção não comete o erro de apontar “a” ou “b” como culpados, deixando o espectador, então, com o nó na garganta ainda mais apertado ao lembrar-lhe que ser adulto possui dessas complexidades que levam a razão a triunfar sobre a emoção.

La La Land, cabe dizer, não mostra sua maturidade de imediato, sendo a espera por esse desabrochar apaziguada pelo carisma de Gosling (incrível ao piano) e Emma Stone que juntos sempre funcionam em cena, o mesmo podendo ser dito quando separados, aspecto esse em que a atriz, em performance superlativa, acaba acumulando pontos a mais porque seu papel assim permite - vide , por exemplo, o close por ela enfrentado enquanto canta a belíssima The Fools Who Dream².
Em resumo, o que está por vir em La La Land se revelará arrebatador; sendo aquilo que antecede tal epifania muitíssimo agradável, ainda que não localizado no mesmo patamar de excelência. Trata-se, portanto, de um conjunto que não dispõe de semelhante grau de qualidade do início ao fim, circunstância que pode ser ignorada, relativizada ou valorizada conforme o gosto do freguês. Seja qual for a opção, um pensamento, contudo, parece não poder ser deixado de lado: as acusações de plágio praticadas por alguns contra La La Land são exageradas, afinal, o que se vê é um filme que transita conscientemente por uma linha tênue sem resvalar na mera cópia, sendo suas referências, óbvias, voltadas a um tributo, seja ele adequado ou não dentro do enredo. Neste sentido, as semelhanças estéticas de suas sequências musicais para com as vistas em títulos como Fama, Cantando na Chuva e Amor, Sublime Amor funcionam sim enquanto homenagem, denotando que a direção de Damien Chazelle, por um lado, é um primor quanto a carinhosa tarefa por ele assumida de recriar cenas de musicais clássicos, embora careça, por outro lado, de dose maior de originalidade - característica também percebida no roteiro como outrora mencionado - restando, por conseguinte, evidente a superestimação feita em torno de seu nome desde Whiplash – Em Busca da Perfeição (EUA, 2014) - um trabalho comum, a não ser pelo excelente sincronia entre trilha musical e edição.
__________________
1.   A pergunta “e se?” passa então a ecoar por todo o filme, lembrando questões também levantadas em Mr. Nobody (Canadá, 2009), cuja crítica pode ser acessada em http://setimacritica.blogspot.com.br/2010/11/mr-nobody.html.
2.    A trilha musical de La La Land merece todos os aplausos recebidos uma vez que consegue algo visto com pouca frequência: fazer de sua canção-tema, City os Stars, uma espécie de personagem do filme.

Ficha Técnica

Título Original: La La Land

Direção e Roteiro: Damien Chazelle

Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, J.K.Simmons, Amiée Conn, Ana Flavia Gavlak, Callie Hernandez, Cameron Brinkman, Candice Coke, Finn Wittrock, Hemky Madera, Jason Fuchs, Jessica Rothe, John Legend, Kiff VandenHeuvel, Meagen Fay, Miles Anderson, Rosemarie DeWitt, Sandra Rosko, Sonoya Mizuno, Trevor Lissauer, Zoë Hall

Produção: Fred Berger, Gary Gilbert, Jordan Horowitz, Marc Platt

Fotografia: Linus Sandgren

Montagem: Tom Cross

Trilha Sonora: Justin Hurwitz

Estreia: 19/01/2017 (Brasil)

Duração: 127 min.

Comentários

LEIA TAMBÉM