Dogman
Conceito
Perdido
O impacto causado por Dogman (Itália, 2018) é resultado
imediato da capacidade que o aparentemente frágil Marcello possui de destruir e
sabotar a si próprio através de uma série de decisões erradas - tomadas em nome
de equivocadas noções de honra e de amizade - que restringirão sua liberdade, afastá-lo-ão
de sua filha e levá-lo-ão a ser defenestrado pelos comerciantes locais que
antes o tinham em bom conceito.
Impossibilitado de manter aberto o pet shop que garantia seu sustento e de
ter por perto a única integrante de sua família, resta ao protagonista ir atrás
de Simoncino, troglodita responsável por sua derrocada, para dele cobrar aquilo
que entende cabível. Neste passo, se até então a violência era um elemento que
volta e meia dava as caras na narrativa, a partir de tal ponto de virada se torna
a tônica definitiva da história tamanha a truculência com que se tratam as partes
envolvidas, característica que, somada ao aspecto sujo e decadente dos
ambientes¹ pelos quais transitam as figuras retratadas, assemelha o filme, por
vezes, ao mexicano Amores Brutos (2000)
– aliás, é da brutalidade que o diretor Matteo Garrone extrai a emoção necessária
para que o espectador se sinta seduzido e/ou incomodado com os personagens,
relação essa que impede o longa-metragem de ser um relato meramente cru e frio
da criminalidade tal qual fora Gomorra
(Itália, 2008), trabalho anterior do cineasta.
Acachapante, Dogman atordoa não apenas pelos fatores supracitados, mas também e
principalmente pelo desespero de alguém que no intuito de recuperar o status quo ante realiza atos atrozes e
os expõe em praça pública na esperança de assim ser vangloriado e voltar a
gozar da consideração de outrora. Destarte, mais absurda do que sua pretensão é
a possibilidade de êxito da mesma, já que bárbaros costumam ser os recônditos
desejos daqueles que embora não dotados de coragem suficiente para trucidar os
seres que lhes são inconvenientes saciam sua sordidez quando outros assim o fazem.
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1. Como ressalta Diego Olivares: “O cenário de Dogman está sempre coberto por nuvens carregadas,
conferido ao local onde a ação se desenvolve um caráter desolador, reforçado
também pelas fachadas antigas do centro comercial onde seus personagens
trabalham e o decadente parque de diversões abandonado ali perto. É uma
atmosfera fria, terra castigada pela pobreza e na qual a única lei ainda
vigente é a do mais forte.”. Texto integral disponível em http://cinematecando.com.br/critica-dogman/.
Acesso em 08/09/18.
Ficha Técnica
Direção: Matteo Garrone
Roteiro: Matteo
Garrone, Ugo Chiti, Massimo Gaudioso
Produção: Matteo
Garrone, Jeremy Thomas, Jean Labadie, Paolo Del Brocco
Elenco:
Marcello Fonte , Edoardo Pesce, Nunzia Schiano,
Adamo Dionisi, Aniello Arena, Francesco Acquaroli, Alida Baldari
Calabria, Laura Pizzirani, Giancarlo Porcacchia, Mirko Frezza, Gianluca Gobbi
Fotografia: Nicolai
Bruel
Trilha
Sonora: Michele Braga
Montagem: Marco
Spoletini
Direção de Arte:
Massimo Pauletto
Estreia: 17/05/2018
(Itália)
Duração:
103 min.
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