Infiltrado na Klan



Fôlego Recuperado

Ao longo do desenvolvimento de Infiltrado na Klan (EUA, 2018) Spike Lee apresenta aqui e ali alguma crítica implícita ao governo de Donald Trump no que tange o conservadorismo e preconceito propagados pelo mesmo. Já no encerramento do longa-metragem o diretor abandona a sugestão e torna explícito o protesto ao se valer das imagens reais do confronto ocorrido em Charlottesville, estado da Vírginia, no ano de 2017, ocasião em que integrantes da Klu Klux Klan aterrorizaram a cidade e tiveram a gravidade de seus atos minimizada pelo então presidente norte-americano¹. A força dessas cenas aponta o quanto a ficção – ainda quando baseada em eventos verídicos – jamais será capaz de superar os absurdos e brutalidades da vida real; a bem da verdade, o uso de tais gravações finaliza com chave de ouro um enredo que mesmo permeado de ponta a ponta por um viés político não causa cansaço no espectador, resultado garantido pela habilidade demonstrada pelo cineasta para equilibrar bom humor com momentos sérios e reflexivos.

Inteligente, Lee se vale de uma embalagem cool, ao modo blacksploitation, assessorada por uma edição ágil e por um elenco irreparável - com especial destaque para os graciosos John David Washington e Laura Harrier - para destilar de forma tanto satírica e cínica quanto indignada sua irresignação perante o racismo que historicamente assola seu país natal – incômodo esse que, aliás, é uma característica inerente a filmografia do diretor. Felizmente dessa vez, ao contrário de como fizera na maioria dos seus filmes realizados a partir dos anos 2000, Lee não põe o discurso acima da linguagem cinematográfica, mas sim lado a lado – modus operandi que lhe permite recuperar o equilíbrio narrativo de outrora e ainda lhe garante espaço para ministrar uma breve aula de história do cinema configurada na abordagem do lançamento de O Nascimento de uma Nação (1915) e toda a polêmica que a obra acarretara ao se prestar a defender a KKK.
Infiltrado na Klan remete ao Spike Lee das décadas de 80 e 90 que tanta provocação causou com obras necessárias como Febre da Selva (1991), Mais e Melhores Blues (1990) e Faça a Coisa Certa (1989). Tal constatação denota o quão articulado e relevante o artista permanece sendo para a sétima arte bem como para a causa da igualdade racial, para a insatisfação dos extremistas de direita.
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01. Dentro deste contexto, sugere-se a leitura da reportagem EUA: Carro avança contra protesto antirracismo e deixa um morto, de autoria de Henrique Gomes Batista, disponível em https://oglobo.globo.com/mundo/eua-carro-avanca-contra-protesto-antirracismo-deixa-um-morto-1-21699532 (acesso em 15.01.2019).


Ficha Técnica 

Título Original: BlackkKlansman
Direção: Spike Lee
Roteiro: Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott, Spike Lee, baseado na obra de Ron Stallworth
Produção: Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Jason Blum, Jordan Peele, Raymond Mansfield, Sean McKittrick, Shaun Redick, Spike Lee
Elenco: Adam Driver, Alec Baldwin, Arthur J. Nascarella, Ato Blankson-Wood, Brian Tarantina, Corey Hawkins, Damaris Lewis, Dared Wright, Faron Salisbury, Frederick Weller, Isiah Whitlock Jr., Jasper Pääkkönen, John David Washington, Ken Garito, Laura Harrier, Michael Buscemi, Paul Walter Hauser, Robert John Burke, Ryan Eggold
Fotografia: Chayse Irvin
Trilha Sonora: Terence Blanchard
Montagem: Barry Alexander Brown
Estreia: 22.11.2018 (Brasil)
Duração: 135 min.

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