WiFi Ralph - Quebrando a Internet
Libelo Feminista
É inebriante a inteligência demonstrada pelo roteiro de WiFi Ralph - Quebrando a Internet (EUA, 2018) para
dialogar com a plateia infantil acerca de assuntos sérios sem perder a leveza.
Neste passo, com muito bom humor o filme tira sarro do machismo e dos vários rótulos
que a sociedade tenta impor sobre a mulher¹ que, por conseguinte, segue
enaltecida mediante personagens femininas de personalidades marcantes que ditam
o rumo da narrativa e, inevitavelmente, se revelam superiores em relevância aos
seres masculinos ora inseguros ora estanques inseridos na história.
A animação ainda
transita pela questão dos relacionamentos abusivos que não raro aprisionam as
mulheres nas teias de seus companheiros.
Neste contexto, de forma bastante lúdica - vide os ecos de King Kong apresentados no clímax - o longa-metragem ensina que o
verdadeiro amor é aquele que, altruísta, almeja o bem-estar do outro e preserva
a independência deste, bem como sua liberdade para viver do modo que lhe aprouver,
lição importantíssima numa época em que são cada vez mais recorrentes os casos
de feminicídio² praticados por parceiros irresignados com a separação proposta
pelas esposas/namoradas. Destarte, ao demonstrar que as meninas não precisam se
comportar como as princesas dos contos de fada, não são obrigadas a se curvar às
pretensões e anseios do sexo oposto nem tem de abdicar de seus sonhos e planos
por causa de rancores machistas WiFi
Ralph se revela um libelo feminista mirim digno de aplausos.
E não é só, pois, além dos méritos supracitados, a produção,
com imensa sagacidade, ainda converte a linguagem da internet em imagens de
fácil compreensão para os menores, aspecto esse que traz à memória a semelhante
técnica empregada em Divertida Mente (2015)
quanto às emoções dos seres humanos. Ademais, até quando cede a um elemento
típico dos desenhos infantis, a correria do catártico confronto final travado
entre o herói e seu algoz, WiFi Ralph
o faz de maneira diferenciada, haja vista que no lugar de um vilão propriamente
dito, o que se vê é o egoísmo de Ralph a ocupar tal espaço e fazer dele mesmo
seu pior inimigo na medida em que tal sentimento se impõe com vigor suficiente
para destruir tudo de importante ao seu redor.
Por fim, não é possível discorrer sobre WiFi Ralph sem mencionar os especialíssimos crossovers nele realizados, mistura que, aliás, vem se fincando
como uma característica própria da franquia, já que enquanto na obra anterior, Detona Ralph ( 2012),
seus personagens principais já interagiam com ícones dos games, nesta sequência, além de Ralph novamente debater com tais
figuras, há o acréscimo do encontro de Vanellope com outras personagens dos universos
Disney e Pixar (atenção para a piada nesse sentido envolvendo a protagonista de
Valente), bem como com os stormtroopers, R2D2 e C3PO - algo que seria
impensável antes da aquisição da marca Star
Wars pela Disney³.
E é assim, entrelaçando diversão e conteúdo, que WiFi Ralph logra o êxito de propagar entre
públicos de todas as idades as mensagens e reflexões pretendidas, o que, há de
se convir, é um mérito que poucos títulos alcançam.
___________________________
1. Neste sentido, sugere-se a leitura do texto Como a Disney pede desculpas às princesas em WiFi Ralph, de autoria de Mariana Canhisares, disponível em: https://www.omelete.com.br/filmes/como-a-disney-pede-desculpas-as-princesas-em-wifi-ralph . Acesso em 12/01/2019.
2. Como leitura complementar ao assunto indica-se o artigo Feminicídio cresce no país, apesar de aumento de ações no Judiciário, escrito por Acesso em 12/01/2019.
3. Para lembrar o ocorrido cabe a visualização da matéria “Disney compra Lucasfilm por US$ 4,05 bi e promete 'Star Wars 7'”, disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/disney-compra-lucasfilm-por-us-405-bi-promete-star-wars-7-6589678 . Acesso em 12/01/2019.
Ficha Técnica
Título Original: Ralph Breaks the Internet
Direção: Rich Moore, Phil Johnston
Roteiro: Phil Johnston, Pamela Ribon
Produção:
Clark Spencer
Fotografia:
Nathan Warner
Trilha
Sonora: Henry Jackman
Elenco (vozes): John C. Reilly, Sarah Silverman, Gal
Gadot, Taraji P. Henson, Jack Mcbryer, Jane Lynch, Alan Tudyk, Alfred
Molina, Ed O’Neill, Bill Hader, John DiMaggio, Irene Bedard, Kristen Bell, Jodi
Benson, Auli’i Cravalho, Jennifer Hale, Kate Higgins, Linda Larkin, Kelly
Macdonald, Idina Menzel, Mandy Moore, Paige O’Hara, Pamela Ribon, Anika Noni
Rose, Ming-Na Wen, Roger Craig Smith
Estreia: 03.01.2019 (Brasil)
Duração: 112 min.
Comentários
Postar um comentário