Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar


Histórico Desconhecido


O ponto de partida de Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (Brasil, 2019) é inegavelmente interessante, qual seja a abordagem do cotidiano da cidade interiorana de Toritama-PE cuja economia gira em torno da produção de roupas jeans em fábricas de fundo de quintal. Infelizmente, contudo, não há elaboração de um panorama histórico que explique o que levou a população de tal local a se dedicar com tamanha preponderância a referida atividade. Nesta toada, o diretor Marcelo Gomes prefere se concentrar em um discurso que tanto critica o modus operandi do regime capitalista quanto questiona a opção de renúncia aos direitos trabalhistas por muitos preferida no afã de ao fim do mês obter uma margem de ganho maior, circunstância possibilitada graças a um esquema de produtividade que considera os trabalhadores como se autônomos fossem, daí não lhes serem garantidas, por exemplo, as contribuições previdenciárias nem férias ou horas extras remuneradas.
Dito isso, é impactante ver como muitos por uma questão de necessidade imediata “optam” por não laborar como empregados com carteira de trabalho assinada e ainda enaltecem o valor de tal escolha¹, o que denota o quão peculiares são as diferentes realidades da classe operária em um país de proporções continentais como o Brasil. Talvez a análise desse assunto fosse ainda mais rica se Gomes tivesse a sorte de contar com depoimentos melhores em contundência, afinal, os relatos colhidos, salvo poucas exceções, soam não raro repetitivos, o que faz o filme passar bastante tempo andando em círculos, saldo por vezes piorado em virtude de uma narração em primeira pessoa e em voz over que peca pela insistência e pelo excesso de didatismo, quadro que o cineasta parece tentar amenizar ao dar uma guinada na narrativa para os preparativos carnavalescos do mencionado grupo populacional, tema que em sendo aquele que responde pelo título da obra merecia ser delineado com maior cuidado, pois a rapidez com que é tratado faz soar um tanto aleatória a inserção de tal matéria no documentário.
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1.Neste sentido, Eduardo Escorel observa que: “O que parece perturbar o documentarista é motivo de satisfação para essas mulheres trabalhadoras” (FONTE: Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar – Descobrindo o Desconhecido: Os desencontros entre o documentarista e seus personagens. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/estou-me-guardando-para-quando-o-carnaval-chegar-descobrindo-o-desconhecido/. Acesso em 23/08/19.

 

FICHA TÉCNICA

Direção e Roteiro: Marcelo Gomes

Produção: João Vieira Jr., Nara Aragão
Fotografia: Pedro Andrade
Trilha Sonora: O'Grivo
Montagem: Karen Harley
Consultor Artístico: Gabriel Mascaro

Estreia: 11/07/2019

Duração: 86 min.

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