Ted Bundy: A Irresistível Face Do Mal


Passada de Pano

Embora se trate da adaptação ficcional da amplamente divulgada e conhecida   história real de um dos mais sanguinários serial killers já vistos em solo norte-americano, Ted Bundy: A Irresistível Face Do Mal (EUA, 2019) se vale de uma narrativa que tenta, se é que isso é possível, incutir a dúvida na plateia acerca da veracidade das acusações feitas contra o protagonista. Para tanto o filme praticamente abdica das reconstituições dos ataques brutais que o ser retratado dirigia as suas vítimas, jogando para baixo do tapete, por conseguinte, a selvageria com que violava e assassinava mulheres - somente já próximo ao término quando pouco antes do cumprimento de sua pena capital o personagem, enfim, confessa a autoria de parte dos crimes a ele atribuídos é que o filme então reproduz bem rapidamente um dos ilícitos praticados pelo maníaco.

Neste passo, faz falta uma abordagem mais crua dos estupros, mortes e abusos de cadáveres cometidos, sensação que não se deve a uma predileção pela morbidez e sim pela necessidade de não romantizar a figura nem diminuir sua monstruosidade. Ao concentrar o foco sobre os métodos de sedução utilizados por Bundy para convencer de sua inocência, no âmbito privado, tanto seu interesse romântico Liz (Lily Collins) quanto, frente as câmeras de televisão, toda uma nação o longa-metragem faz dos espectadores que desconhecem a trajetória do assassino serial um alvo da farsa sustentada por aquele, resultado, há de se convir, questionável devido ao saldo gerado para a imagem do mesmo, qual seja a equivocada impressão de que não era tão “extremamente cruel, de um mal chocante e vil” como aponta o título original da produção - extraído, por sua vez, da decisão judicial que o condenara a cadeira elétrica.
Não bastasse a lacuna decorrente da ausência de sequências capazes de mostrar a fundo o grau de psicopatia de Bundy, o roteiro do filme ainda deixa um outro espaço em aberto, qual seja aquele referente ao delineamento da personagem Carole Ann-Boone, no que tange, sobretudo, seu passado - a despeito de, graças ao talento da atriz  Kaya Scodelario,  ser o papel com interpretação de maior destaque. Neste diapasão, uma análise sobre o histórico de tal pessoa, caso feita, ajudaria a compreender o que a faz venerar e se dedicar a Bundy sem ligar para a chocante realidade de violência contra o sexo feminino que o permeia. Aliás, a personagem serve como um reflexo do trabalho de direção e de roteiro do longa-metragem, ao passo que, por vezes, relativiza a ligação de Bundy aos assassinatos investigados, minimizando, assim, as atrocidades por aquele cometidas.


FICHA TÉCNICA

Título Original: Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile

Direção: Joe Berlinger
Roteiro: Elizabeth Kendall, Michael Werwie
Produção: Ara Keshishian, Joe Berlinger, Michael Costigan, Michael Simkin, Nicolas Chartier
Elenco: Alan B. Jones, Angela Sarafyan, Ava Inman, Derek Snow, Grace Victoria Cox, Haley Joel Osment, James Hetfield, Jeffrey Donovan, Justin Inman, Kaya Scodelario, Leilani Barrett, Lily Collins, Macie Carmosino, Maya Berlinger, Morgan Pyle, Richard K. Jones, Ryan Wesley Gilreath, Sydney Vollmer, Terry Kinney, Zac Efron
Fotografia: Brandon Trost
Trilha Sonora: Dennis Smith, Marco Beltrami
Montagem: Josh Schaeffer
Estreia: 25/07/2019
Duração: 110 min.

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