Silvio e os Outros
Mudança de
Foco
O primeiro ato de Silvio
e os Outros (Itália/França, 2018) engana. Focado não no
protagonista Silvio Berlusconi (Toni Servillo) e sim no personagem coadjuvante Sergio Morra (Riccardo Scarmacio), o filme
de início se dedica a mostrar o plano do segundo para fazer fortuna na política
com a ajuda de Berlusconi. Para tanto, Sergio investe tudo o que tem para
oferecer festas nababescas regadas a álcool, drogas e sexo como forma de provocar
o famoso apetite sexual do então ex-primeiro ministro italiano. Filmada com efervescência
semelhante a de A Grande
Beleza (Itália,
2013) e com furor que remete aos trabalhos de Martin Scorsese, esta etapa do
longa-metragem faz o espectador pensar que verá uma história de ascensão e queda
parecida com as trajetórias dos personagens de Ray Liotta e Leonardo DiCaprio,
respectivamente, em Os Bons Companheiros
(EUA, 1990) e O Lobo
de Wall Street (EUA, 2013), mas eis que quando Berlusconi enfim surge
em cena, após ser muito sobre ele apenas comentado, o diretor Paolo Sorrentino
parece se deixar seduzir pela figura do político daí deixar um tanto de lado o
viés antes explorado em torno de Sergio.
A partir do referido ponto de virada o ritmo
da obra cai consideravelmente, o que faz a narrativa perder a agilidade de
antes em prol de sequências que, mais longas que o necessário, denotam o quão
envolvido por Berlusconi o cineasta ficara, o que não necessariamente seria um
problema caso Sorrentino ao invés de apenas analisar a crise matrimonial
daquele, bem como seu comportamento bufão, galanteador e hedonista também
enveredasse mais por seu lado sombrio, pela forma descompromissada com a seriedade
e com a verdade com que governava e, principalmente, pelos escândalos de
corrupção por ele protagonizados, circunstâncias essas que são mencionadas sem
o devido aprofundamento - postura que os defensores da obra podem justificar
como sendo uma espécie de representação do desdém dos seres retratados pela
justiça.
Destarte, entre a abordagem lenta de um homem
rico em vertentes a serem exploradas (Silvio) e a mise-en-scène frenética que circunda
um tipo de arquétipo (Sergio) cujas tramoias oportunistas já foram vistas em
produções cinematográficas parecidas, sai vencedora essa última, embora o ideal,
por óbvio, fosse um resultado balanceado.
Ficha Técnica
Título
Original: Loro
Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino
e Umberto
Contarello
Elenco:
Elena Sofia Ricci, Riccardo Scamarcio, Kasia Smutniak,
Toni Servillo, Giovanni Esposito, Dario Cantarelli, Fabrizio Bentivoglio, Euridice
Axén, Roberto De Francesco, Anna Bonaiuto
Produção:
Francesca Cima, Nicola Giuliano, Carlotta Calori,Viola Prestieri
Duração: 157 min.
Comentários
Postar um comentário