Em Guerra
Sacrifício Inesperado
Embora vinculado a causa operária, Em Guerra (França, 2018) mantém certa dose de afastamento do cinema de conotação realista praticado em torno de tal temática graças a uma estrutura estética que diversas vezes emula linguagem documental próxima a de programas jornalísticos, linguagem que se projeta de modo bastante ágil ao longo da primeira metade da obra que, assim, adquire o ritmo intenso de um noticiário, sensação de rapidez que um tanto se dissipa a medida em que os questionamentos da classe trabalhadora tem de ser reiterados a exaustão eis que ignorados pelos patrões.
Nessa segunda fase o longa-metragem pode soar repetitivo ou até cansativo para alguns, sentimento que se coaduna com a frustração de personagens vilipendiados por seus superiores e que exaustos perante uma luta que parece perdida seguem lidando com a ameaça do desemprego. Com efeito, resta demonstrada a razão de ser de uma eventual quebra de dinamismo da narrativa que prefere, portanto, não se ater a um estilo e prezar os sentimentos das figuras retratadas¹, no que se inclui a resignação de muitos² ante a constatação da impossibilidade de mudar o rumo das coisas face o poderio de grandes corporações, percepção que também atinge a plateia que já um tanto conformada com tudo o que viu pensa estar em certo momento diante do término do filme quando, eis que de repente, uma última e inesperada sequência é descortinada para o completo choque de quem assiste, instante esse que eleva a produção a outro patamar e conduz a narrativa por outros caminhos, dessa vez de esperança, abertos pelo sacrifício radical de alguém.
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1. Neste sentido, Bruno Carmelo escreve: “O diretor Stéphane Brizé [...] pretende reproduzir a sensação de cansaço, de repetições, de impotência sofrida pelos trabalhadores. Eles gritam, mas não são ouvidos, argumentam, mas ouvem em resposta que ‘a diretoria está tão decepcionada quanto vocês’. O grupo recebe promessas de novos encontros e negociações, mas a situação não avança. As greves fazem pressão, mas não surtem efeitos práticos. A frustração é o motor de (in)ação deste filme que se pretende maçante, duro, asfixiante como são as relações de poder” (Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-255425/criticas-adorocinema/. Acesso em 22/06/2020).
2. Contexto esse do qual é uma exceção o protagonista interpretado por Vincent Lindon que entrega aquele tipo de performance na qual ator e personagem se confundem sem que seja possível distinguir um do outro.
ficha técnica
Título original: En Guerre
Direção: Stéphane Brizé
Roteiro: Olivier Gorce, Olivier Lemaire, Ralph Blindauer, Stéphane Brizé, Xavier Mathieu
Produção: Christophe Rossignon, Philip Boëffard
Elenco: Anthony Pitalier, Bruno Bourthol, Daphné Latour, David Rey, Frédéric Lacomare, Grégoire Ruhland, Guillaume Daret, Isabelle Rufin, Jacques Borderie, Jean Grosset, Jean-Noel Tronc, Marie Nadaud, Mélanie Rover, Olivier Lemaire, Rachid Mamlous, Romain de Boissieu, Sébastien Vamelle, Séverine Charrie, Valérie Lamond, Vincent Lindon
Fotografia: Éric Dumont
Trilha Sonora: Bertrand Blessing
Montagem: Anne Klotz
Estreia Brasil: 10/10/2019
Duração: 113 min.
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