Bergman – 100 Anos

Gangorra de Sentimentos

 

Bergman – 100 Anos (Suécia, 2018) é um exemplo de homenagem a ser seguido eis que, embora reverenciadora, não comete o erro de ser chapa branca, daí que a despeito de toda a admiração demonstrada por Ingmar Bergman e suas obras, o documentário não se deixa cegar pela paixão e consegue, desta feita, ir fundo nas falhas e desvios de caráter do homem por trás da figura emblemática.

Dentro deste contexto, o filme faz um giro pela produção teatral, televisiva e cinematográfica do diretor tomando por parâmetro o ano de 1957 enquanto elemento propulsor de uma nova fase de sua carreira ainda mais prolífica e exitosa, já que nesse ano além de lançar “apenas” Morangos Silvestres e O Sétimos Selo, o artista ainda rodou um telefilme e dirigiu quatro peças de teatro, viés esse que abre espaço para uma reflexão acerca do quanto tamanha dedicação pelo ofício o fez sacrificar, sobretudo, a vida familiar. Além de alguém pouco afeito a fidelidade perante parceiras e amigos, Bergman também é mostrado como um realizador excêntrico, irascível e controlador, conjunto ao qual eram acrescentadas pitadas de mitomania que o fizeram, inclusive, assumir uma afeição pelo nazismo quando jovem, circunstância que pode ser tanto real quanto apenas imaginada. Tantas peculiaridades colocam o espectador numa gangorra de amor e ódio estabilizada pelo reconhecimento da grandiosidade da obra bergmaniana, daí, não à toa, muitos depoimentos a respeito do cineasta serem inicialmente pouco elogiosos para logo adiante se renderem ao valor de seu legado.

Material de natureza enciclopédica¹, o longa-metragem traz, para o delírio dos cinéfilos, interessantíssimas cenas de bastidores das gravações de alguns clássicos do cineasta, só não sendo ainda mais completo por absoluta falta de tempo, o que não impede que eventuais assuntos pouco explorados sejam estudados em outros trabalhos sobre ele já feitos tanto no campo do audiovisual quanto no da literatura. Pessoas superlativas são assim: difíceis de sintetizar numa única oportunidade.

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1.    Bergman – 100 Anos logra o êxito de ser mais abrangente que o também ótimo A Ilha de Bergman (Suécia, 2004), documentário no qual o diretor fora instigado a falar de sua filmografia em meio a análise de seu amor pela ilha de Fårö, lugar onde por décadas exerceu um estilo de vida solitário.

 

Ficha Técnica

Título Original: Bergman: Ett år - ett liv

Direção e Roteiro: Jane Magnusson

Produção: Cecilia Nessen, Fredrik Heinig, Mattias Nohborg

Fotografia: Emil Klang

Trilha Sonora: Jonas Beckman, Lars Kumlin

Montagem: Hanna Lejonqvist, Kalle Lindberg, Orvar Anklew

Estreia Brasil: 12 de julho de 2018

Duração: 118 min.

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