Normal
Azul e Rosa
Normal (Itália/Suíça, 2019) descende de uma prática de documentários mosaico que iniciada por Um Homem com uma Câmera (Rússia, 1929) possui ainda em seu filão obras como Koyaanisqatsi (EUA, 1982). Em comum tais produções dispensam entrevistas, personagens e até mesmo narrações em voz over, valendo-se tão apenas da intercalação de imagens agrupadas de forma tal que tornam a mensagem pretendida perceptível a despeito da não utilização das tradicionais ferramentas narrativas mencionadas.
Nesta toada, Normal apresenta sequências que ilustram aquilo que ao longo de séculos representa para a sociedade os alicerces da divisão binária de gêneros. Transitando linearmente pelas fases da infância, adolescência e vida adulta, o filme lança seu olhar sobre comportamentos de manada que reforçam o pensamento heteronormativo de que meninos vestem azul enquanto meninas usam rosa¹. O problema é que em não havendo uma análise aprofundada sobre tais imagens por vezes parece que os gestos e costumes registrados soam como que ratificados, o que sabe-se não ser a intenção da cineasta Adele Tulli que em outros trechos consegue deixar claro seu tom crítico seja mediante a astúcia cômica com que capta a importância e senso de absurdo de determinadas passagens, seja nas vezes em que o discurso de certas figuras filmadas denota todo um arcabouço machista entranhado na cabeça não só de homens como também de mulheres.
Por último, já em seu epílogo Tulli aponta que não apenas a igualdade de gêneros há de ser o padrão de normalidade² como também a aceitação a orientações sexuais que não estejam adstritas ao formato da heterossexualidade.
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1.Dentro deste contexto a diretora Andrea Tulli pontua: “A educação para o gênero se torna uma espécie de performance que aprendemos a desempenhar na infância, e reproduzimos ao longo da adolescência. Nós repetimos ideias, gestos, atitudes e até uma linguagem corporal que corresponda de certo modo às expectativas da sociedade e de instituições como a família, a escola e a mídia. [...] Todos precisam se adequar a um padrão considerado “normal” em sua respectiva sociedade, acatando-o e moldando-se a ele. [...] Ainda estamos distantes de chegar ao estágio no qual não importe mais o gênero que lhe é imposto na infância” (Entrevista disponível em https://www.papodecinema.com.br/entrevistas/adele-tulli-o-genero-se-torna-uma-performance-que-aprendemos-a-reproduzir-desde-a-infancia-explica-a-diretora-de-normal/. Acesso em 14/09/2020).
2. Sobre o assunto Bárbara Demerov escreve: “Como Normal bem mostra, o senso de igualdade não é assunto em nenhum dos casos. As cenas, que vão desde um concurso de beleza até um ensaio fotográfico de um casal, nunca equiparam ambos os lados. Elas sempre caem na sensação de inferioridade imposta às mulheres - e não uma inferioridade desconfortável e latente, mas sim uma que vai preenchendo os espaços com olhares ternos e palavras simpáticas” (Observando o erro. Disponível em http://www.adorocinema.com/filmes/filme-271439/criticas-adorocinema/. Acesso em 14/09/2020).
FICHA TÉCNICA
Direção: Andrea Tulli
Montagem: Ilaria Fraioli
Duração: 82 min.
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