Incêndios/A História Oficial
Política e Melodrama
Incêndios (Incendies, Canadá,
2010) narra a trajetória de irmãos em busca de respostas para o, até então não
conhecido, passado de seus pais. A partir de tal mote, a narrativa se bifurca
através de longos flashbacks para, desta feita, alternar a tensão ora no
presente ora no que um dia fora vivido pela mãe do casal de gêmeos,
proporcionando, ao fim, um mergulho no horror de conflitos político-religiosos.
Infelizmente, tal estrutura narrativa acaba demonstrando fraqueza em
determinadas passagens graças ao tom novelesco que a trama adquire - daí
importantes descobertas amargarem certa dose de previsibilidade -
característica essa que, entretanto, não diminui a força das imagens e da
mensagem pretendida.
A toada melodramática de Incêndios,
vale dizer, o aproxima de outro drama político, qual seja o premiado A
História Oficial (La Historia Oficial, Argentina, 1985), cujo roteiro também
envereda pela busca de uma pessoa, dessa vez, a suposta mãe biológica –
desaparecida nos anos da ditadura militar Argentina – de uma criança entregue
para adoção a uma professora de história que, ironicamente, ignora a realidade
ditatorial de seu país, preferindo, portanto, concentrar suas aulas nas
explicações dos eventos de outrora.
Enquanto a
produção canadense disponibiliza a visualização de fatos ocorridos em meio a
repressão para, ato contínuo, traçar um paralelo com os eventos que os
sucederam, A História Oficial mantém-se fixado no presente, fazendo, por
conseguinte, uma avaliação de dentro para fora, isto é, a partir de um embate
doméstico que funciona como exemplo de conseqüência referente a situações
macro.
Tratam-se, portanto, de propostas diferentes mas
que dialogam entre si em virtude do conteúdo politizado e da abordagem
romanceada. No caso do trabalho argentino – vencedor do Oscar de melhor filme
estrangeiro – o tempo foi implacável no sentido de limitar seu valor a denúncia
político-social realizada, em detrimento dos atributos
estéticos/cinematográficos da obra– agora vistos como convencionais. Resta
saber se Incêndios – candidato
ao Oscar de melhor filme estrangeiro – também demonstrará tal
deficiência daqui a alguns anos¹ ou se, de maneira inversa, continuará gerando
a atual sensação de incômodo perpassada ao longo de sua exibição.
___________________________
1.
Não
obstante as qualidades já mencionadas, bem como os
competentes trabalhos de edição e fotografia, colabora a favor de tal hipótese
a equivocada escalação de atores cujas idades aparentadas não atendem as
exigências da trama..
Direção:Denis
Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve, baseado em peça teatral de Wajdi
Mouawad
Produção: Kim
McCraw, Luc Déry
Elenco:Maxim Gaudette
(Simon Marwan)Anthony Ecclissi
(Lifeguard) Bader Alami
(Nicolas)Baya Belal (Maika)Rémy Girard (Notary Jean Lebel)Nabil Sawalha
(Fahim)Abdelghafour Elaaziz
(Abou Tarek)Allen Altman
(Notary Maddad)Mohamed Majd
(Chamseddine)Mélissa Désormeaux-Poulin
(Jeanne Marwan)Lubna Azabal
(Nawal Marwan)Yousef Shweihat
(Sharif)
Música: Grégoire Hetzel
Fotografia: André Turpin
Edição: Monique Dartonne
Estreia Mundial: 4 de Setembro de 2010
Duração: 130 minutos
Direção:Luis
Puenzo
Roteiro: Aída
Bortnik, Luis Puenzo
Elenco:
Analia
Castro (Gaby)Guillermo Battaglia (Jose)Hugo Arana
(Enrique)Norma Aleandro (Alicia)Chunchuna
Villafañe (Ana)Héctor Alterio (Roberto)Chela Ruíz
(Sara)María Luisa Robledo (Nata)Patricio
Contreras (Benitez)Aníbal Morixe (Miller)Jorge
Petraglia (Macci)Daniel Lago (Dante)Augusto
Larreta (General)Laura Palmucci (Rosa)Leal Rey
(Cura)
Duração: 112 minutos
Curiosidade: “Recentemente o que parecia ser
uma suposição, uma leitura ficcional da realidade argentina durante o regime
militar, relatada nesse filme, parece ter se concretizado como fato real. A
fundadora do movimento Avós da Praça de Maio acredita ter encontrado sua neta
que fora adotada pelos donos do jornal Clarín após seus pais terem sido
sequestrados pelos militares” (FONTE: http://pipocacomentada.wordpress.com/2010/10/01/a-historia-oficial/).
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