Amanhã Nunca Mais
Passo Maior que as Pernas
Amanhã Nunca Mais (Brasil, 2011) é dotado de inúmeras
referências, dentre as quais saltam aos olhos: a cena de abertura ao estilo Um Dia de Fúria (EUA, 1993), a trama de
percalços ao longo de uma noite também vista em Depois de Horas (EUA, 1985) e o protagonista passivo que pressionado
por situações extraordinárias explode em fúria e violência tal como o
personagem de Dustin Hoffman em Sob o
Domínio do Medo (EUA, 1971).
O problema,
dentro deste contexto, reside na falta de personalidade própria do título
brasileiro que, por sua vez, acaba perdendo a oportunidade de ser um
interessante estudo sobre comportamentos alterados pelo sufocamento de uma metrópole
para, assim, se contentar com a apresentação de um festival de tipos caricatos
em meio a situações absurdas.
Não fosse o
bastante, o diretor Tadeu Jungle opta por entregar tudo mastigado ao espectador
- ignorando, portanto, palavras como síntese e sugestão¹ - através do esteio de
uma trilha sonora insistentemente moldada para conduzir as reações do público,
o que, convenhamos, é lamentável, visto que apesar de contar com efeitos
sonoros extremamente bem editados, a música tão presente em cada cena serva
apenas para tornar a experiência um enfado.
Dito isso,
embora não se trate, ainda bem, de um filme de longa duração, o que fica é a
impressão de que Amanhã Nunca Mais, face
o teor repetitivo de seu enredo, alcançaria um melhor rendimento caso se
limitasse ao formato de um curta-metragem. Eis o típico caso em que o passo
dado fora maior do que as pernas.
___________________________
1.
Para
não soar injusto, cabe dizer que uma sugestão é sim feita, e bem, qual seja a exposição
da situação profissional/financeira do personagem principal, isto é, do médico
anestesista que mesmo trabalhando dia e noite em plantões consecutivos ainda não
consegue lograr um status econômico
privilegiado; afinal, seu automóvel é popular, seu passeio com a família é para
um balneário freqüentado por classes B e C e sua casa suburbana e apertada por
certo não comporta as expectativas suas e de sua mulher. Tal realidade é
mostrada nem sempre com sutileza, mas, ao se apoiar tão somente na força das
imagens e nos sentidos do espectador, revela o quanto o trabalho de Tadeu
Jungle seria melhor se ousasse mais nesse sentido.
COTAÇÃO: ۞۞
Ficha
Técnica
Direção: Tadeu
Jungle
Roteiro: Marcelo
Muller, Mauricio Arruda, Tadeu
Jungle
Produção:Paulo Roberto Schmidt
Elenco:Lázaro
Ramos (Walter)Maria
Luisa Mendonça (Miriam)Fernanda
Machado (Solange)Milhem Cortaz (Geraldo)Luis
Miranda (Motoboy)Paula Braun (Renata)Vic
Militello (Dona Olga)Carlos
Meceni (Cirurgião-chefe)Imara Reis,
Arthur
Kohl
Música:
André Abujamra e Márcio Nigro
Fotografia:
Ricardo Della Rosa
Edição:
Estevan Santos e Jon Kadosca
Estreia: 11 de Novembro de 2011
Duração: 78 min.
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