Film Socialisme
Godard: O Avesso da Obsolescência
Em Film Socialisme (França/Suíça 2010) Jean-Luc Godard utiliza a
tecnologia digital para compor algo que mais parece uma versão estendida de um
trabalho de vídeo arte do que um exemplo de produção cinematográfica
propriamente dita. Neste sentido, o diretor francês continua escrevendo com
a câmera, leia-se: radicalizando quanto a forma imagética que, destarte, se sobrepõe ao
texto. Por isso, a narrativa inexiste e os personagens são relegados a mera
função discursiva, isto é, de leitura das linhas do ‘roteiro’ – o que explica
porque atores aparecem quase que sempre com seus rostos envoltos em penumbra.
Não fosse o bastante, Godard:
a) pratica uma espontânea mutilação de seu longa-metragem ao deixar de atribuir legendas na integralidade para as narrações e diálogos falados em francês e alemão, o que revela uma anárquica intenção de tornar o filme, sob o aspecto da lingüística, uma verdadeira torre de Babel ou até, talvez, um utópico desejo de comunicação universal capaz de extravasar as fronteiras da língua - hipótese essa, convenhamos, menos provável face o caráter iconoclasta do artista.
Não fosse o bastante, Godard:
a) pratica uma espontânea mutilação de seu longa-metragem ao deixar de atribuir legendas na integralidade para as narrações e diálogos falados em francês e alemão, o que revela uma anárquica intenção de tornar o filme, sob o aspecto da lingüística, uma verdadeira torre de Babel ou até, talvez, um utópico desejo de comunicação universal capaz de extravasar as fronteiras da língua - hipótese essa, convenhamos, menos provável face o caráter iconoclasta do artista.
b) como de costume, abre mão de uma conexão cristalina entre as
partes, obrigando o espectador a primeiro intelectualizar acerca do que é
mostrado para, em seguida, estabelecer uma junção lógica e/ou sensorial do
material para, assim, se for o caso, travar uma relação emocional com a obra.
Quanto ao conteúdo de suas ideias, Godard pode, em tempos tão
cínicos, parecer datado para alguns ou, de maneira contrária, pode para outros
soar como uma ainda relevante voz de protesto contra instituições e convenções
de todas as espécies. De qualquer forma, compreendendo/concordando ou não com aquilo que fora por ele filmado, é inconteste que o tempo não serviu para
torná-lo obsoleto, uma vez que mesmo octogenário o cineasta permanece
provocando e gerando polêmica acerca da natureza e da função do cinema, o que,
por certo, constitui um grande préstimo contra o engessamento da atividade
cinematográfica.
Direção e Roteiro: Jean-Luc
Godard
Produção: Ruth Waldburger
Elenco:Nadège Beausson-Diagne, Jean-Marc Stehlé, Christian Sinniger, Maurice Sarfati, Patti Smith, Élisabeth Vitali
Elenco:Nadège Beausson-Diagne, Jean-Marc Stehlé, Christian Sinniger, Maurice Sarfati, Patti Smith, Élisabeth Vitali
Fotografia: Fabrice
Aragno e Paul Grivas
Estreia: 03.12.2010 (Brasil)
Duração: 101 min.
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